Vários crematórios chineses admitiram estar sobrecarregados devido a uma onda de casos de covid-19, apesar de o número oficial de mortos divulgado pelas autoridades ser reduzido, noticiou esta terça-feira a agência francesa AFP.
Após protestos de rua, a China terminou abruptamente, no início de dezembro, a maior parte das medidas da política de "covid zero", incluindo os testes obrigatórios, o que fez disparar o número de casos no país asiático com 1.400 milhões habitantes.
Vários modelos matemáticos e diferentes estudos, chegaram à mesma conclusão: com o fim abrupto da política de “covid zero” na China, que já está a levar a uma muito rápida propagação da pandemia e a um aumento de novos casos diários, mais de 2 milhões de pessoas podem morrer nos próximos meses vítimas do sars-cov-2.
No relatório mais recente sobre a covid-19, as autoridades chinesas deram conta esta terça-feira de cinco mortes e 2.722 novas infeções nas últimas 24 horas, mas não tinham reportado casos fatais entre 28 de maio e 19 de novembro.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a China comunicou mais de 10 milhões de casos de infeção e 31.309 mortes entre 2 de janeiro de 2020 e 19 de dezembro de 2022 (segunda-feira).
Milhões de chineses vão deslocar-se durante as festividades do ano novo lunar, em janeiro, o que deverá contribuir para o aumento de infeções.
A previsão é de que a China vai sofrer quatro vagas de covid este inverno, antes da situação acalmar e que cerca de 60% dos mais de 1.400 milhões de habitantes fiquem infetados nos próximos meses.
"Não há mais espaço para os corpos nas câmaras frigoríficas"
Numa ronda feita pela AFP, funcionários de crematório chineses disseram que o número de mortos aumentou nas últimas semanas, sem precisarem, contudo, quantas dessas mortes estarão relacionadas com a covid-19.
Em Chongqing (sudoeste), uma cidade-província com uma população de mais de 30 milhões de habitantes, um crematório ficou sem espaço para armazenar os corpos.
O número de corpos nos últimos dias é "muito superior ao anterior", disse um funcionário, que pediu para não ser identificado por razões de segurança.
"Estamos todos muito ocupados, não há mais espaço para os corpos nas câmaras frigoríficas", acrescentou.
Uma situação semelhante prevalece no outro extremo do país.
"Claro que estamos ocupados, que lugar não está ocupado neste momento?", respondeu um funcionário de um crematório em Baoding, perto de Pequim.
A capital chinesa e os seus 22 milhões de habitantes foram particularmente atingidos pela covid-19, que se espalhou rapidamente nos últimos dias.
Número de mortes largamente subestimados, consideram peritos
As cinco mortes comunicadas pelas autoridades na terça-feira, ocorreram na capital da China, depois de duas no dia anterior. Peritos consideram que estes números são largamente subestimados, segundo a AFP.
A agência francesa viu mais de uma dúzia de veículos à espera de entrar no crematório de Dongjiao, em Pequim, na terça-feira, na sua maioria carros funerários com fitas escuras e coroas de flores.
Um condutor na fila disse à AFP que estava à espera há várias horas. Um crematório na cidade de Guangzhou, na província de Guangdong (sul), fronteira a Macau e Hong Kong, descreveu a situação como "extremamente preocupante".
"Estamos a cremar mais de 40 corpos por dia, em comparação com cerca de uma dúzia anteriormente. Estamos três a quatro vezes mais ocupados do que nos anos anteriores", disse um funcionário, sob condição de não ser identificado.
A covid-19 é provocada pelo vírus SARS-CoV-2, que foi detetado pela primeira vez na cidade de Wuhan, no centro da China, no final de 2019. Face à disseminação do vírus, a OMS declarou a pandemia em março de 2020.
A doença respiratória provocou mais de 6,6 milhões de mortos a nível global, segundo números da OMS. Para tentar travar a doença, foram administradas em todo o mundo mais de 13.000 milhões de doses de vacinas anticovid, 3,4 milhões das quais na China.