Alterações Climáticas

"O ponto de não retorno do aquecimento global pode já ter sido ultrapassado"

Cientistas da maior expedição de investigação ao Ártico divulgam resultados preliminares.

O navio quebra-gelo alemão "Polarstern" da expedição MOSAiC no Ártico.
O navio quebra-gelo alemão "Polarstern" da expedição MOSAiC no Ártico.
https://mosaic-expedition.org/

O ponto crítico para o aquecimento global irreversível pode já ter sido ultrapassado e com ele as previsíveis consequências em cascata para o planeta, alerta o líder da maior expedição científica realizada ao Polo Norte.

“Só nos próximos anos poderemos avaliar se ainda podemos salvar o gelo marinho ártico permanenete com uma política de proteção coerente do clima ou se já ultrapassámos o ponto de não retorno do sistema climático”, disse Markus Rex numa conferência de imprensa esta terça-feira em Berlim.

Markus Rex liderou a expedição internacional MOSAiC que esteve durante um ano no Ártico entre 2019 e 2020 e está hoje a apresentar os resultados preliminares da investigação.

A cientista do gelo marinho e participante da expedição MOSAiC Stefanie Arndt, o físico e líder da expedição Markus Rex e a Ministra da Educação da Alemanha Anja Karliczek com um cartaz com a foto do navio quebra-gelo alemão "Polarstern" e a legenda "Aumento da temperatura global".
POOL New / Reuters

“O desaparecimento do gelo de verão no Ártico é uma das primeiras bombas deste campo minado, um dos primeiros pontos de mudança que acionamos quando levamos o aquecimento global longe demais”, explicou o cientista na conferência de imprensa conjunta com a ministra da Educação e Investigação alemã Anja Karliczek.

Mas "ainda podemos questionar se já pisámos esta mina e se já provocamos o início da explosão", insistiu este climatologista e físico, um dos principais cientistas do estudo do Ártico.

Se já alcançámos este ponto de não retorno, serão desencadeados efeitos nocivos "em cascata" e "piorando ainda mais o aquecimento global, como o desaparecimento da calota de gelo da Gronelândia ou o degelo de áreas ainda maiores do permafrost ártico".

O permafrost - camada de solo que em teoria estaria gelada durante todo o ano -, que representa até 85% da superfície do Alasca, está em vias de fundir inexoravelmente.

Gelo derrete a "um ritmo dramático"

A ameaça paira também sobre os blocos de gelo e os antigos glaciares.

Quando a missão a bordo do navio quebra-gelo Polarstern regressou ao porto de origem em Bremerhaven, no noroeste da Alemanha, a 12 de outubro de 2020, Markus Rex já tinha deixado o alerta que a camada de gelo está "a derreter a um ritmo dramático".

O degelo do gelo marinho no verão é considerado pelos cientistas como "o epicentro do aquecimento global".

Durante 389 dias entre 2019 e 2020 os cientistas da missão MOSAiC recolheram dados exaustivos, principalmente durante os meses em que o navio navegou no gelo do Polo Norte, que vão fornecer informações valiosas sobre as alterações climáticas.

Estudaram a atmosfera, o oceano, o gelo marinho e o ecossistema para recolher dados que avaliam o impacto das alterações climáticas na região e em todo o mundo..