No relatório da autoridade de inspeção das prisões britânicas (HMIP, sigla em inglês), que inclui dados sobre chegadas habitualmente não divulgados, mostra-se que 3.603 migrantes foram detidos em julho, agosto e setembro no auge da crise migratória no canal da Mancha.
Os migrantes chegaram ao Reino Unido, a partir de Calais (norte de França), escondidos em veículos que fizeram a travessia de ferry, ou em comboios de mercadorias que usam o túnel sob a Mancha.
A maioria ficou detida numa instalação no porto de Dover e os restantes num estabelecimento em Folkestone, nos arredores.
"Não há dúvida de que o aumento na migração foi inicialmente demasiado para as infraestruturas existentes e uma resposta de emergência foi necessária", de acordo com o inspetor-chefe Peter Clarke.
"Foi inaceitável não terem sido criados mecanismos para tratar rapidamente dos processos dos detidos, eficaz e decentemente, ao mesmo tempo que se garantia que os mais vulneráveis, como as crianças, estavam seguros e que as necessidades básicas dos detidos, de comida, repouso e vestuário eram satisfeitas".
No relatório não se indica o número de migrantes que apresentaram pedidos de asilo ou que foram devolvidos.
O ministro da Imigração, James Brokenshire, reconheceu que a utilização de um estabelecimento sobrelotado "era inaceitável" e insistiu que não será usado da mesma fonte no futuro.
"Desde que se realizou esta inspeção, melhorámos as instalações no porto de Dover e continuamos a trabalhar nos planos para abrir um novo centro para processar as chegadas irregulares aos portos de Kent", afirmou.
A imigração é uma das questões dominantes no Reino Unido, que se prepara para um referendo sobre a continuação do país na UE.
O gabinete do primeiro-ministro britânico, David Cameron, alertou hoje que uma saída da UE (Brexit) poderia implicar a criação de campos para acolher migrantes na costa britânica se os controlos fronteiriços do Reino Unido fossem retirados de Calais.
"Se o Reino Unido sair da UE não há qualquer garantia de que aqueles controlos permaneçam no local", disse o porta-voz de Cameron à imprensa no mês passado.
"Se aqueles controlos não ficarem no local, não existirá nada para impedir milhares de pessoas de atravessar o canal durante a noite, chegar a Kent (sudeste de Inglaterra) e pedir asilo", acrescentou.
Lusa