Crise Migratória na Europa

Itália pede a ONG que resgate dezenas de migrantes no Mediterrâneo

O pedido das autoridades italianas, aparentemente motivado pelo grande número de embarcações com migrantes a bordo à deriva no Mediterrâneo, é invulgar, uma vez que as ONG de regaste humanitário tornaram-se um dos alvos das medidas anti-migração.

Itália pede a ONG que resgate dezenas de migrantes no Mediterrâneo
Petros Karadjias

As autoridades italianas pediram ao navio da Open Arms que resgatasse dezenas de migrantes em perigo na rota do Mediterrâneo Central, divulgou esta quinta-feira a organização não-governamental (ONG) espanhola.

"Enquanto o (navio) 'Open Arms' dirigia-se para o porto de Civitavecchia, recebeu instruções das autoridades italianas para intervir em vários outros casos de embarcações em perigo", escreveu a ONG nas suas redes sociais.

Este pedido das autoridades italianas, aparentemente motivado pelo grande número de embarcações com migrantes a bordo à deriva no Mediterrâneo, é invulgar, uma vez que as ONG de regaste humanitário tornaram-se um dos alvos das medidas anti-migração aplicadas pelo Governo da primeira-ministra Giorgia Meloni.

A atribuição de portos distantes do local de resgate, por vezes a vários dias de viagem, é uma prática comum do executivo italiano.

No início do ano, o Governo liderado por Meloni - uma coligação de direita e extrema-direita - promulgou um decreto sobre migração que também impede as embarcações humanitárias de efetuarem mais do que um salvamento na sua viagem, razão pela qual várias organizações já foram sancionadas.

O navio "Open Arms", para o qual tinha sido atribuído o porto de Civitavecchia, perto de Roma, a mais de três dias da zona onde havia resgatado 24 pessoas na quarta-feira, desviou-se da sua rota para realizar uma segunda operação de salvamento.

"Portanto, [o navio 'Open Arms'] realizou um segundo resgate de 46 pessoas, incluindo 11 mulheres e duas crianças que viajavam num barco em condições muito precárias", explicou a ONG.

"Agora estão todos a salvo a bordo do nosso velho rebocador juntamente com as 24 pessoas que o nosso navio recebeu na quarta-feira", acrescentou a organização espanhola, antes de sublinhar que há "tantas embarcações à deriva no mar que precisam de ajuda e salvamento".

Algumas horas antes, a tripulação do veleiro Astral, também da Open Arms, resgatou 67 pessoas em perigo, entre as quais uma grávida em trabalho de parto, e transferiu-as para a ilha de Lampedusa, no sul de Itália, a pedido das autoridades italianas.

O Astral, que costuma socorrer migrantes em perigo no mar até que sejam resgatados para um navio mais adequado, recebeu instruções neste caso para os levar para Lampedusa, o território italiano mais próximo da costa africana.

Fontes da ONG espanhola disseram à agência de notícias EFE que quando o Astral chegou a Lampedusa, a mulher ainda não tinha dado à luz e que ainda não sabiam o estado de saúde da mãe ou da criança.

De acordo com os últimos dados do Ministério do Interior italiano, entre o início do ano até 2 de agosto, 89.427 migrantes desembarcaram na costa italiana, mais do dobro dos 42.198 registados no mesmo período no ano passado.

Itália, a par da Grécia, Espanha ou Malta, é um dos países da "linha da frente" ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.

O país está integrado na chamada rota do Mediterrâneo Central, encarada como uma das mais mortais, que sai da Tunísia, Argélia e da Líbia em direção ao território italiano, em particular à ilha de Lampedusa, e a Malta.