Ao 11.º dia de campanha, os líderes do PS e da AD vão apostar nos distritos de Lisboa, Setúbal, Braga e Viana do Castelo, com agendas que privilegiam o contacto com os eleitores. A cinco dias das eleições legislativas de domingo, o presidente do PSD, Luís Montenegro, conta com a presença do anterior líder social-democrata, Rui Rio, que entra nesta campanha pela primeira vez. Para Maria Castello Branco, a participação de figuras históricas e de pesos-pesados na campanha eleitoral, nem sempre tem tidos os efeitos desejados para os respetivos partidos. A consultora política aponta críticas à campanha de André Ventura que considera estar a ser “absurda” e “ridícula”.
“Temos visto uma campanha anormalmente repleta de figuras históricas e de grandes pesos pesados. Parece-me que esses pesos pesados têm servido mais ao PS do que à AD, porque os pesos pesados do PS que chegam têm, apesar das diferenças já sabidas com Pedro Nuno Santos, um discurso alinhado com a estratégia de Pedro Nuno Santos. Os pesos pesados da AD, alguns deles parecem ter outras ideias para aquilo que teria de ser ser a estratégia da AD”.
Maria Castello Branco considera, assim, que a aposta na presença dos chamados históricos na campanha, nem sempre tem sido válida, como foi o caso de Pedro Passos Coelho, antigo primeiro-ministro e líder do PSD.
“Pedro Passos Coelho é um problema para Luís Montenegro, só porque a semana passada foi marcada por sucessivas Contextualizações de Luís Montenegro a declarações de Pedro Passos Coelho, de Paulo Núncio… e Partido Socialista aí não marcou muita semana porque quando o adversário está a atrapalhado, deixá-lo atrapalhar-se.”
"Parece que dentro da AD se percebeu exatamente o impacto de Pedro Passos Coelho, mais do que as coisas que Pedro Passos Coelho disse - a associação de insegurança à imigração, sem estudos que comprovem esses factos ou, aliás, contra os estudos. Pedro Passos Coelho é, na verdade, uma imagem traumática para reformados e nós vimos isso nas ruas e Luís Montenegro sentiu com certeza, por isso chamou outra vez Cavaco Silva, que é o primeiro-ministro que deu um 14.º quarto mês aos pensionistas e quem os pensionistas têm uma boa imagem e nós vimos ontem também Paulo Portas com um discurso alinhado mais alinhado com Luís Montenegro do que Pedro Passos Coelho, que é extraordinário", explica a consultora política.
Das manobras ao lapso freudiano de André Ventura
Quanto à campanha do Chega, com as insinuações de André Ventura em relação a possíveis acordos secretos de nomes importantes do PSD para um acordo com o Chega. Maria Castello Branco sublinha "que os dois principais candidatos a primeiro-ministro portaram-se muito bem
“A estratégia parece uma estratégia quase consertada ao centro democrático de dois partidos profundamente democráticos, que é o PS e o PSD, com o CDS, PP e com o PPM, de quase ignorarem André Ventura e tratarem-no como uma criança porque, de facto, André Ventura presta-se a isso, está a prestar-se o ridículo. A campanha de André Ventura está a ser absurda, está a ser ridícula”, realça.
Maria Castello Branco lembra que as sondagens não estão a dar ao Chega o crescimento que o partido esperava e se André Ventura entrou nestas duas semanas de campanha oficial “muito insuflado, a achar que iria ter 20%, falou até da possibilidade de ser ele a governar”.
“Depois percebemos no início da campanha oficial que há um certo desespero, porque as sondagens começam a descer, porque começa a haver concentração nos dois maiores partidos e André Ventura começa com a história dos rateres das motas, que eram tiros e afinal não eram, eram mesmo até da própria campanha”.
A consultora critica ainda a “manobra de um playbook de Bolsonaro e de Donald Trump, de quem é um macaquinho de imitação”, a tentar descredibilizar os resultados que sairão no próximo domingo, com questões de alegada fraude eleitoral e a pedir a demissão do porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Já esta terça-feira, no comício em Évora, André Ventura teve um lapso freudiano ao dizer “vamos salvar o país da democracia, quer dizer do socialismo”.