Eleições Legislativas

"Mandar gasolina para o fogo”: Livre alerta Marcelo para perigo em autárquicas e revisão constitucional

Rui Tavares pede à esquerda que desperte e que se mobilize para, nas autárquicas, ganhar votos nos concelhos onde a extrema-direita dominou nestas legislativas. E apela a Luís Montenegro para que não consinta uma revisão da Constituição sem haver consenso com, pelo menos, o centro-esquerda.

O porta-voz do Livre, Rui Tavares (E), durante a audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa, 21 de maio de 2025.
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O líder do Livre defende que é preciso “despertar”, após o sinal de alarme que foram as eleições legislativas do último domingo. Rui Tavares considera que a esquerda não pode perder-se em reflexões longas, porque as autárquicas estão já aí à porta. E alerta para a crise de regime que resultaria se a direita e a extrema-direita levassem a cabo uma revisão da Constituição.

Após ter sido recebido, esta tarde, por Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém, Rui Tavares revelou as duas grandes preocupações que transmitiu ao Chefe de Estado: o impacto que as “eleições históricas” do último domingo podem ter no mapa político, através das autárquicas, e o impacto que podem ter no regime, através da Constituição.

Rui Tavares considera que a reflexão feita pela esquerda – que, à exceção do Livre, sofreu uma pesada derrota nestas legislativas – deve ser “grande”, mas não pode ser “longa”. Tal seria um “luxo” ao qual “não se pode dar”, defendeu. “É perigoso”. 

Para o líder político, essa reflexão não pode ir além de julho, porque as listas para as autárquicas têm de estar fechadas até essa altura. 

Lembrando que a extrema-direita venceu em dezenas de concelhos, nestas últimas eleições, o líder do Livre frisa que a esquerda não pode aceitar “sem nada fazer” que “num belo dia de setembro ou outubro Portugal acorde com um mapa político completamente diferente”. Sobretudo porque uma mudança nas autárquicas, alega, teria um impacto muito mais durador do que o de uma legislatura. 

Aos olhos de Rui Tavares, as legislativas de domingo foram um “sinal de alarme para despertar. Considera que a estratégia a adotar pelos partidos à esquerda tem de passar por ir aos concelhos onde a extrema-direita ficou em primeiro lugar falar com as populações e encontrar personalidades de prestígio, por exemplo, na sociedade civil que encarnem candidaturas de esquerda. 

“A esquerda deve despertar para esta realidade e fazer o que estiver ao seu alcance para que haja, na maior parte das câmaras possíveis, listas progressistas”, defendeu.

O apelo a Montenegro

Em relação à preocupação manifestada quanto a uma possível revisão constitucional, Rui Tavares recorda que avisou para esse perigo e que lhe foi dito para não estar com “papões”. Agora, alega, os “papões” confirmam-se, depois de a Iniciativa Liberal ter anunciado, esta quarta-feira, uma proposta de revisão para diminuir papel do Estado na economia.

“Já sabíamos que a IL gostava de motosserras, agora sabemos que gosta de mandar gasolina para o fogo”, atirou Rui Tavares.

O líder do Livre recorda que, no passado, revisões constitucionais implicaram consenso entre esquerda e direita. E censura que, num momento em que há uma maioria parlamentar com a extrema-direita, a IL ache que é a altura certa para mudar a Constituição.

“Não existe legitimidade e para fazer uma revisão constitucional que, basicamente, constituiria uma mudança de regime”, insistiu. 

Alertando para o risco de uma “crise de regime”, Rui Tavares diz que é “muito importante” que Luís Montenegro dê “sinais de que esta legislatura não é para fazer revisão constitucional”. Ou, pelo menos, que não haja emendas sem consenso com o centro-esquerda.

Questionado sobre se já tem voto definido quanto à moção de rejeição do programa do governo que o PCP vai apresentar, Rui Tavares respondeu que não, alegando ainda que não falou com o Presidente da República sobre um programa que não conhece.