É natural que em Portugal se dê uma enorme atenção aos dados da Covid 19, num momento de súbita aceleração. Mas é importante que se perceba que nos EUA estes já não têm a mesma atenção popular.
Ao contrário do que aconteceu em quase toda a Europa ocidental – onde houve uma significativa diminuição de casos durante o verão -, nos EUA, a curva não deu muitas voltas. Teve altos e baixos, claro, mas sem variações significativas. E isso provoca duas coisas:
a) um óbvio cansaço;
b) que outros assuntos, com a economia à cabeça, ganhem o seu espaço natural no tempo de atenção.
Ontem, foi um dia exemplar. Quinta-feira, segundo dados do New York Times, os EUA ultrapassaram os 9 milhões de casos de Covid 19 e os 228 mil mortos.
Em 24 horas registou-se o número recorde de 90 mil casos. A média móvel dos últimos 14 dias subiu 42 por cento. Mas o PIB recuperou 33,1%. Sim, trinta e três vírgula um por cento.
Qual foi o número que dominou as campanhas e as análises eleitorais. Trump, como é óbvio, pegou no PIB e agitou-o o dia todo.
Biden, numa opção menos óbvia, agarrou a Covid 19 como tema dominante do seu discurso. A escolha de Biden até tem uma certa lógica, porque ontem foi dia de ir à Florida, um Estado onde há um número desproporcional de reformados e eleitores idosos, uma faixa da população onde Trump gozava de enorme vantagem mas que se tem afastado do Presidente por causa da gestão da pandemia. Mas não festejar 33,1% de recuperação económica pode ser um erro, mesmo para o candidato da “oposição”.
Nos EUA, o PIB e o crescimento económico são tão amados como a constituição.
Se ainda há caminho para uma vitória de Trump, é sem dúvida este: mostrar que a recuperação económica já está a acontecer, que fechar a economia é um suicídio coletivo, que Biden quer matar a recuperação económica para tentar salvar vidas que estariam sempre vulneráveis numa pandemia, que a solução – a única solução – é deixar a pandemia seguir o seu caminho até que chegue uma vacina e, pelo meio, deixar a economia fazer os eu caminho.
Com um PIB fora de série - vindo de uma queda igualmente espetacular -, Trump tem algo a que se agarrar.
Uma coisa tangível, que facilita o discurso de menorização da pandemia. Pode parecer pouco, mas é o melhor que a sua campanha teve nas últimas três ou quatro semanas, e permite ter um discurso mais coerente e constante nos últimos quatro dias de campanha.
A SIC está nos Estados Unidos da América a acompanhar as presidenciais. Veja aqui as reportagens, os apontamentos e a opinião de quem está a testemunhar as eleições da década. Donald Trump ou Joe Biden, um deles será o 46º Presidente dos EUA.
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