1.PANDEMIA
Com mais de 200 mil casos e três mil mortos por dia, os Estados Unidos atravessam a pior fase da pandemia. Joe Biden elegeu a Covid-19 como a tarefa número um da sua presidência e prometeu dedicar-lhe toda a atenção logo no primeiro dia do seu mandato, 20 de Janeiro.
Prometeu, também, que a sua administração vacinaria 100 milhões de pessoas nos primeiros 100 dias de governo – um milhão por dia quando, a 3 de Janeiro, o ritmo era de 250 mil vacinações diárias, muito longe da promessa de Trump de dois milhões por dia.
Mas os preparativos de Biden para atacar a pandemia estão a ser prejudicados pela fraca cooperação da equipa Trump na transição de poder. O Pentágono, ministério da Defesa que coordena a distribuição das vacinas, suspendeu unilateralmente as reuniões para fazer um intervalo para festas natalícias.
Trump deixa vacinas em quantidade insuficiente, em parte devido a encomendas muito abaixo das necessidades, reflectindo a ideia de que a pandemia estava quase a acabar e que, para efeitos, de propaganda, bastava “haver vacina”, não necessariamente vacinação de todos. Biden colocou-se entre a espada e a parede ao prometer um milhão de vacinações diárias e os obstáculos de Trump tudo pioram.
2. ECONOMIA
Tal como Barack Obama com George W Bush, Biden herda uma economia abatida cuja debilidade se agravará neste inverno por causa de um estímulo económico tardio e insuficiente. Após a resposta inicial à crise em finais de Março, uma segunda e mais robusta lei de estímulo económico foi aprovada na Câmara dos Representantes em Julho, mas o Senado, controlado pelos Republicanos, só em Dezembro acedeu a debater e aprovar uma versão mais pífia e ineficaz.
Esta lei omite qualquer assistência aos governos estaduais, arruinados pela pandemia, muitos dos quais, em 2021, vão cortar drasticamente os serviços públicos (polícia, bombeiros, professores, etc).
Ao mesmo tempo, o Departamento do Tesouro, rescindiu uma verba de 400 mil milhões de dólares, que ainda não tinha sido utilizada pelos programas de apoio às empresas em dificuldades, com o objetivo de negar a Biden um instrumento imediato de socorro à economia.
Quando Biden, nas primeiras semanas de governação, não fizer milagres, os republicanos que há 40 anos presidem a crises económicas e à destruição da classe média, irão, certamente, apelidá-lo de incompetente.
3. SABOTAGEM
Quando Bill Clinton derrotou George Bush (pai) nas eleições de 1992, o vencido, ao sair da Casa Branca, deixou na gaveta uma missiva para o seu sucessor: “Caro Bill (...) Quando leres esta carta, serás o nosso presidente (...) O teu sucesso será o sucesso do nosso país. Estou a torcer a sério por ti. Boa sorte, George”.
O contraste entre Bush e Trump não podia ser maior. Trump não aceitou a derrota eleitoral, e tudo fez para minar o caminho ao seu sucessor e, no primeiro dia do ano, tentou persuadir o responsável eleitoral da Georgia a adulterar os resultados e declará-lo vencedor. Os seus apoiantes, no dia 6 de Janeiro, vão criar uma atmosfera de circo na sessão conjunta do Congresso para a contagem oficial dos votos do Colégio Eleitoral, alegando irregularidades e fraude eleitoral – apesar de Trump per perdido os quase 60 processos apresentados em tribunal, contestando os resultados eleitorais, porque em nenhum desses casos foram apresentadas provas. Vários juízes que deliberaram contra Trump foram nomeados por ele, incluindo três dos seis conservadores no Supremo Tribunal (que tem nove membros).
A sabotagem de Trump estendeu-se à transição para a nova administração. Após o adiamento do arranque do processo, não foi só o Pentágono suspendeu contactos, como se notou acima: o Gabinete de Gestão e Orçamento adoptou postura idêntica, prejudicando os esforços da nova administração para preparar atempadamente projectos de orçamento.
Outras medidas de última hora incluem nomeações espúrias de lealistas para comissões e órgãos da administração pública, no que um democrata descreve como deixar o “maior número possível de pedras no caminho.”
Mas a sabotagem mais grave poderá vir do Senado se este, em resultado da segunda volta das eleições na Georgia (5 de Janeiro), se mantiver sob maioria republicana.
O líder republicano, Mitch McConnell, um mestre da obstrução com provas dadas, pode congelar a agenda legislativa de Biden, para mais tarde alegar que o presidente democrata é incompetente, para além de socialista radical. Biden espera poder negociar com ele, numa manifestação de optimismo não partilhada pela Washington política.
4. ADVERSÁRIOS INTERNOS
Joe Biden tem no seu fragmentado Partido Democrático uma ala progressista cuja oposição ao presidente moderado será forte, após ter visto ignorada a quase totalidade dos seus favoritos para cargos na administração.
Mesmo antes da investidura de Biden, os progressistas já encorajam uma candidatura da mais visível figura esquerdista eleita do partido, Alexandra Ocasio-Cortez, nas primárias de 2022, contra o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer.
Pressões sobre a nova administração para uma distribuição de pastas politicamente correcta, levou Biden a nomear para cargos governativos congressistas que fazem falta a uma delapidada maioria democrata que encolheu de 38 para 11 votos na Câmara dos Representantes.
Entre essas baixas, que serão substituídas, mais tarde, em eleições especiais intercalares, e faltosos às votações, por causa da pandemia, a líder democrata Nancy Pelosi admite ser necessário cuidado a agendar votações – que um descuido pode tornar numa derrota.
Não haverá dias fáceis para a administração Biden.