1 – Qual é a parte de 6 de janeiro de 2021 que ainda não perceberam?
As sentenças, feitas há dias, sobre um triunfo antecipado de Donald Trump envelheceram muito mal. A corrida está relançada. O machismo e a misoginia de Trump e Vance passaram a ser potencialmente tóxicos para os eleitores independentes e moderados, que na rampa deslizante de Biden ainda candidato pareciam tentados a virar-se para o campo republicano.
Dezasseis anos depois da eleição de Barack Obama, como é possível que a raça ainda possa ser um tema para a próxima candidata presidencial nos EUA? Nalguns casos até de forma ainda mais acentuada? Será o arco da História a andar para trás?
Kamala começou muito bem: forte nos comícios, com mensagem focada, bem construída e bem entregue, a gerar entusiasmo e mobilizar a base democrata. Chega para ganhar? Claro que não. Mas era condição necessária para reativar a esperança dos democratas. O que pode fazer a diferença?
A pergunta decisiva aos eleitores, a fazer várias vezes pela campanha Harris, sobretudo nos dias finais, no caso (provável) desta corrida se manter apertada até ao fim é a seguinte -- pensem bem: querem mesmo voltar a ter Donald Trump, o incitador do 6 de janeiro de 2021, na Casa Branca? E aos independentes e moderados, a imensa minoria silenciosa que não caiu na hiperpolarização e prefere manter o bom senso nas coisas fundamentais, vale a pena repetir, caso se mantenham a colocar a possibilidade de preferir Trump: qual é a parte de 6 de janeiro de 2021 que ainda não perceberam?
2 – Herdar Biden e ir mais além
Kamala Harris estará a pesar tudo isto. Está a saber herdar o essencial da Administração Biden (e isso chega para segurar a parte democrata), está a focar a mensagem nos perigos de um eventual regresso Trump e está a fazer mais: não se fica pela definição abstrata dessa ameaça e arrancou a sua campanha a marcar a oposição entre ela, procuradora e defensora da lei, e Trump, o “predador de mulheres, aldrabão e criminoso condenado”.
Mais uma vez: ajuda a energizar a base, mas talvez não seja suficiente para ganhar nos estados decisivos. Mas Kamala estará também pronta a dar um passo em frente. Na questão do Médio Oriente, por exemplo, acompanha a posição do Presidente Biden de defender a segurança de Israel, empenha-se na concretização de um cessar-fogo que leve ao fim da guerra e à libertação dos reféns, mas carrega mais que Biden na necessidade de olhar para o sofrimento em Gaza.
Tenta, desta forma, reconciliar-se com a esquerda do Partido Democrata que é mais pró Palestina e critica Biden neste tema -- mas, ao mesmo tempo, pode estar a preparar-se para escolher Josh Shapiro, o competente governador da Pensilvânia, um judeu crítico do governo de Netanyahu, o que poderá contrabalançar.
O fulcro da estratégia Kamala nestes primeiros dias foi mesmo um ataque cerrado a Donald Trump, com mensagens claras, que Joe Biden, na parte final, já não estava em condições de conseguir passar.
UMA INTERROGAÇÃO: Que percentagem do “universo Trump” vai, desta vez, ser sensível ao argumento da “fraude eleitoral” se o seu candidato perder?
Um Estado: Colorado
O estado do Colorado tem 5,8 milhões habitantes:
- 67,7% brancos
- 21,5% hispânicos
- 4,8% negros
- 3,5% asiáticos
- 50,9% mulheres
- 16.º estado mais rico
- 21.º mais povoado
Resultado em 2020: Biden 55,4%-Trump 41,9%
Resultado em 2016: Hillary 48,2%-Trump 43,3%
Resultado em 2012: Obama 51,5%-Romney 46,1%
Resultado em 2008: Obama 53,7%-McCain 44,7%
Resultado em 2004: Bush 51,7%-Kerry 47,0%
(Nas últimas 13 eleições presidenciais, 8 vitórias republicanas, 5 vitórias democratas)
O Colorado vale 10 votos no Colégio Eleitoral (num total de 538)
Uma sondagem
VOTO POPULAR NACIONAL | Trump 51-Kamala 49
(Forbes/Harris, 22 a 25 julho)
