10 de março de 2024. A Aliança Democrática cantava vitória, mas com apenas dois deputados a mais em relação ao PS. Não era difícil prever que viria aí um ano de digestão difícil.
“Não estamos interessados em jogos de semântica ou em exercícios políticos estéreis. Este Governo não está aqui de turno”, disse Luís Montenegro na altura.
Um ano e um dia depois o turno pode estar prestes a acabar com uma moção de confiança que o leva ao Parlamento sem ter votos suficientes para a fazer aprovar. E desde o inicio que votos a favor tem sido um problema. O primeiro choque com a realidade foi logo na eleição do Presidente da Assembleia da República. Só à quarta é que foi de vez.
Depois de um novo vai e vem de negociações entre PS e PSD, o primeiro Orçamento do Estado da era Luís Montenegro teve luz verde. Mas houve várias luzes vermelhas pelo caminho. A segurança tem sido um dos temas principais do mandato, com o Governo a ser acusado de entrar na via securitária com direito a declarações ao país às 20:00.
Saúde tem sido um dos calcanhares de aquiles do Governo
Para além da Administração Interna, a Saúde tem sido outro calcanhar de aquiles. Problemas nas urgências, a demissão do ex-diretor do Serviço Nacional de Saúde, o INEM, as listas de espera na oncologia. Que chegou a levar o primeiro-ministro a dizer isto no Parlamento.
“Eu estou aqui para dar e durar senhor deputado”.
Nas polémicas que envolveram Luís Montenegro houve a investigação sobre os benefícios fiscais para a casa de Espinho, que acabou arquivada, e no plano político houve outras: a escolha de Hélder Rosalino para secretário-geral do Governo, que nunca chegou a ser, e ainda outras marcas como a de ser acusado pela oposição de desvalorizar os números da violência doméstica.
“As estatísticas dos últimos anos revelam, de facto, um aumento do crime, mas que eu até tenho dúvidas que signifique um aumento da criminalidade”.
Ou a perceção sobre o que fazem os jornalistas de televisão: “e ver que a maior parte deles tem um auricular no qual lhe estão a soprar a pergunta que devem fazer. (…) Como agente político e como cidadão olho para este quadro e digo que os senhores jornalistas não estão a valorizar a própria profissão”.
"Às vezes tenho mais que fazer do que vos estar a responder diariamente”.
As perguntas dos jornalistas têm-se acumulado, já que o primeiro-ministro tem evitado expor-se a elas. Desde logo, quando se deu a primeira baixa no Governo com a demissão do ex-secretário de Estado Hernâni Dias. Ou agora com a última das polémicas - a da empresa familiar Spinumviva.
É no Parlamento que Luís Montenegro tem preferido falar sobre os temas quentes: “vou-vos dizer com toda a tranquilidade. Eu às vezes tenho mais que fazer do que vos estar a responder diariamente”.
Menos de uma semana depois desta frase, volta ao Parlamento para a moção de confiança ao Governo que não deve resistir depois do fim do debate.