Guerra no Médio Oriente

Charles Michel diz que imigração ilegal vai aumentar na UE se guerra continuar no Médio Oriente

"Precisamos de estabilidade, precisamos de segurança, precisamos de paz para as pessoas da região e isto que está a acontecer em Gaza é simplesmente terrível", classifica Charles Michel.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu
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O presidente do Conselho Europeu alerta que, sem cessar-fogo em Gaza e Líbano, entre Israel, Hamas e Hezbollah, haverá mais imigração ilegal para a Europa, admitindo "desilusão" por a União Europeia não ser mais influente no Médio Oriente.

"O facto de não estarmos a cumprir a necessidade de um cessar-fogo em Gaza e no Líbano cria e criará cada vez mais fluxos migratórios e algumas dessas pessoas preencherão as condições para obter o estatuto de refugiado, mas nem todas", afirma Charles Michel, em entrevista à Lusa e outras agências de notícias europeias no âmbito do projeto European Newsroom (Redação Europeia), em Bruxelas.

A cerca de um mês de deixar o cargo para depois ser sucedido na liderança da instituição pelo ex-primeiro-ministro português António Costa, o responsável acrescenta: "Se muitos líderes estão muito determinados em enfrentar seriamente o desafio da migração [...] , também é necessário verificar as causas profundas das migrações, que são os conflitos e as guerras".

"Precisamos de estabilidade, precisamos de segurança, precisamos de paz para as pessoas da região e isto que está a acontecer em Gaza é simplesmente terrível", classifica Charles Michel.

De acordo com o presidente do Conselho Europeu, as tensões geopolíticas no Médio Oriente, assim como no Sudão, no Corno de África e noutras regiões com conflitos, têm "um impacto direto na Europa em termos de insegurança, em termos do tráfico de seres humanos".

"Temos a responsabilidade de promover os nossos valores democráticos, os nossos princípios baseados na humanidade e temos de ser mais determinados no terreno, caso contrário, isso só irá alimentar mais a imigração ilegal, haverá maiores fluxos [migratórios] e assistiremos a sociedades cada vez mais polarizadas", adianta Charles Michel.

Nesta entrevista à Lusa e as outras agências de balanço do seu mandato de cinco anos à frente do Conselho Europeu, o responsável admite estar "desiludido num ponto".

"Penso que a UE deveria ser muito mais ambiciosa para desempenhar um papel influente no Médio Oriente. Somos o principal parceiro económico de Israel, somos o principal parceiro em termos de desenvolvimento [...] e penso que deveríamos ser mais ambiciosos na utilização dos instrumentos de que dispomos em ambos os lados para trazer mais estabilidade", adianta, falando numa "tragédia para a região e para o mundo".

As tensões na região do Médio Oriente aumentaram após o ataque de 07 de outubro de 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas em território israelita, que fez mais de 1.200 mortos, na maioria civis, e cerca de 250 reféns.

Em retaliação, o exército israelita iniciou uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza que já fez milhares de mortos e de feridos.

O cessar-fogo na Faixa de Gaza está a ser mediado, principalmente, pelos Estados Unidos, Egito e Qatar, que há meses buscam uma trégua entre Israel e o Hamas, mas as duas partes beligerantes não chegam a um acordo.

Mais recentemente, têm-se verificado intensos ataques israelitas no Líbano após o lançamento de mísseis iranianos pelo grupo xiita libanês Hezbollah, aliado do Irão.

Antigo primeiro-ministro belga, o político liberal Charles Michel, de 48 anos, presidiu ao Conselho Europeu durante dois mandatos desde dezembro de 2019 e até 30 de novembro de 2024, num período marcado por crises como a saída do Reino Unido da União Europeia, a pandemia de covid-19, a invasão russa da Ucrânia e, mais recentemente, o reacender das tensões no Médio Oriente.

Será agora sucedido no cargo pelo antigo primeiro-ministro português, António Costa, a partir de 01 de dezembro.

Com Lusa