O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse esta segunda-feira que o norte da Faixa de Gaza vive "a pior crise humanitária desde a II Guerra Mundial" e que é necessário fazer mais do que simplesmente expressar preocupação.
"Temos de fazer mais do que simplesmente expressar preocupação", disse Borrell, em Barcelona, dirigindo-se a representantes da diplomacia de mais de 40 países europeus, do Médio Oriente e do Norte de África, que estão reunidos no fórum anual da União pelo Mediterrâneo (UpM).
Borrell sublinhou que a situação em toda a região do Mediterrâneo "está no limite" por causa da escalada de violência e guerra no Médio Oriente.
Depois de reiterar a condenação aos ataques de Israel nos territórios palestinianos de Gaza e Cisjordânia, assim como no Líbano e, em especial, "os ataques inaceitáveis às estruturas e pessoas" da força das Nações Unidas neste país, Borrell disse que "a maior preocupação hoje" é o norte da Faixa de Gaza.
"É a maior crise humanitária desde a II Guerra Mundial", afirmou.
Para além de um cessar-fogo imediato na região, Borell disse ser também necessário passar das palavras aos atos na implementação da solução dos dois estados (Israel e Palestina).
"Temos de fazer mais do que simplesmente expressar preocupação. Temos de sair desta reunião com um compromisso forte para pressionar para parar esta situação tão dramática", afirmou.
"A palavra-chave é implementar", sublinhou, dizendo que já não são suficientes as declarações que manifestam apoio à solução dos dois Estados, mas sem que haja passos concretos por parte da comunidade internacional.
Neste contexto, congratulou-se por nos próximos dias se realizar a primeira reunião, em Riade, da recém-criada Aliança Global para a implementação da solução de dois Estados, promovida pela UE e pelo Grupo Ministerial de Contacto para Gaza da Liga dos Estados Árabes e da Organização de Cooperação Islâmica.
As bases desta aliança saíram precisamente da reunião da UpM do ano passado, que se realizou algumas semanas após o início da operação militar em Gaza desencadeada por Israel em resposta ao ataque de 7 de outubro de 2023 do grupo islamita palestiniano Hamas.
Israel faz parte da UpM e é um dos países fundadores desta organização, um fórum intergovernamental que junta à mesma mesa a Comissão Europeia, os 27 estados-membros da UE e outros 15 países mediterrânicos.
Como já aconteceu em 2023, Israel boicotou a reunião da UpM deste ano, que é, assim, um fórum de países europeus e árabes, incluindo a Autoridade Palestiniana.
O encontro anual da UpM, conhecido como Fórum Regional da UpM, é uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros, realiza-se anualmente em Barcelona e é co-presidido pelos chefes da diplomacia da UE, Josep Borrell, e da Jordânia, Ayman Safadi.
Na sessão de abertura de hoje, Ayman Safadi sublinhou como a situação no Médio Oriente se deteriorou no último ano, com ataques de Israel a diversos territórios e países na região.
Ayman Safadi sublinhou que Israel tem violado os direitos humanos, o direito internacional, o direito internacional humanitário e os valores europeus, questionando o que é que a comunidade internacional fez ou pretende fazer.
Para o ministro jordano, estas questões têm de ser colocadas "de forma corajosa" à comunidade internacional, que tem de defender a sua "credibilidade" quando fala de direito internacional e direitos humanos, e perguntou se Israel "está acima da lei".
Ayman Safadi garantiu que os países árabes estão comprometidos com a paz e com a defesa dos direitos dos palestinianos e a materialização do Estado da Palestina, que é a forma de garantir a paz e também a segurança de Israel.
"A guerra não trará segurança a Israel", defendeu, acrescentando que, porém, Telavive, atualmente, não tem qualquer proposta para além de "empurrar a região para a guerra e a destruição".
"Temos de implementar a solução dos dois Estados. Não há alternativa, a única alternativa é mais guerra", afirmou.
A UpM tem no centro do encontro de hoje em Barcelona "a situação preocupante" no Médio Oriente.
O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, tinha previsto estar na reunião, mas o cancelamento de voos para Barcelona impediu a sua presença, estando a delegação portuguesa a ser liderada pelo embaixador de Portugal em Espanha, João Mira Gomes.