O futuro de Gaza e as intenções do Presidente dos Estados Unidos, que acredita que o Egito e também a Jordânia vão ceder parte do território para receberem palestinianos. A Jordânia aceita receber crianças. O Egito diz que vai elaborar um plano para a Faixa de Gaza, plano esse que pode travar as intenções de Trump, segundo Ricardo Alexandre.
Um plano do Egito para a Faixa de Gaza"pode efetivamente ter esse desígnio, travar as intenções de Trump. E é óbvio que os países árabes da região teriam sempre um papel importante. E não só a Jordânia e o Egito, provavelmente também o Qatar, a Arábia Saudita, são países que podem ter um papel significativo e mudar os planos de Trump, se é que vão mudar".
"O Presidente dos Estados Unidos, como conhecido incendiário que é, lança as propostas e depois vai recuando na linguagem, nos termos que usa, agora já vemos declarações em que ele diz que não vai comprar absolutamente nada. No dia anterior dizia que ia comprar a Faixa de Gaza. (...) Portanto, perante as deambulações retóricas e linguísticas de Trump, os países da região têm que dizer alguma coisa".
O rei da Jordânia declarou, esta terça-feira, estar pronto para receber 2.000 crianças gravemente doentes de Gaza, numa reunião em Washington com o Presidente norte-americano, que queria que o reino haxemita e o Egito acolhessem a população daquele território palestiniano.
"Ainda que [a Jordânia] receba 2 mil crianças e respetivas famílias serão apenas uns milhares de pessoas. Não estamos a falar de 1.9 milhões, que é o que seria necessário retirar da Faixa de Gaza para levar a cabo, como Donald Trump pretende, o seu plano imobiliário para Gaza".,
"Hamas mordeu o isco"
A reunião desta terça-feira decorreu numa altura em que o cessar-fogo em Gaza está fragilizado, depois de Trump ter, na segunda-feira, exigido que o Hamas liberte os reféns israelitas, o mais tardar no sábado, sob pena de ali se desencadear "um verdadeiro inferno" se não o fizer.
"Acho que a partir do momento em que o Hamas anuncia a suspensão da entrega de reféns, morde o isco que Benjamin Netanyahu e Donald Trump queriam. E de facto, como já se sabia antes do cessar-fogo começar a vigorar, se houvesse depois um retomar da ofensiva militar, seria muito mais pujante, muito mais forte (...) É isso que pode acontecer a partir de sábado se essa troca de reféns não acontecer".
Ricardo Alexandre diz que há "questões menores que não estariam a ser cumpridas como era suposto no cessar-fogo, nomeadamente o nível de ajuda humanitária que estava estipulado não estava a ser cumprido por parte de Israel. A própria deslocação das pessoas para o norte de Gaza teria sido um pouco atrasada. Houve também as queixas de Israel relativamente ao estado em que foram libertados aqueles reféns".
"Eu acho que é do interesse do Hamas que [a libertação de reféns] aconteça. Agora, o Hamas pode permitir essa troca de reféns nos modos em que estava previsto no acordo. E no acordo, nesta fase, é necessário libertar 17 reféns, que aparentemente haveria o compromisso de entregar 8 corpos de pessoas que já teriam morrido e a libertação de mais 9 reféns. Não estamos a falar ainda das largas dezenas que ainda estão aparentemente em cativeiro do Hamas".
Negociações Rússia-Ucrânia
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, revelou que planeia oferecer uma troca direta de territórios à Rússia se Donald Trump conseguir que os dois países se sentem à mesa das negociações. A Rússia diz que não cede território nenhum.
"É a pressão de Donald Trump e é aquilo que Zelensky precisa para o consumo interno, uma vez que parece estar a desistir da operação militar. A Ucrânia estava para criar novas brigadas e aparentemente isso já foi desmentido pelo diretor adjunto do gabinete presidencial. A Ucrânia precisa de recuperação simbólica de um território para consumo interno e para satisfazer a opinião pública interna".
Está tudo à espera de negociações, está tudo à espera de ver o que é que Keith Kellogg faz em termos de consultas com os aliados na conferência de Munique que começa sexta-feira. Depois dessa consulta, muito provavelmente, Donald Trump vai anunciar o plano norte-americano para a Ucrânia, conclui Ricardo Alexandre.