Guerra no Médio Oriente

Estados Unidos acusam ONU de "hipocrisia" por críticas à ajuda em Gaza

A ONU descreveu esta terça-feira como "de partir o coração" as imagens da distribuição de alimentos que a Fundação Humanitária de Gaza, criada pelos Estados Unidos e sem a aprovação das Nações Unidas, lançou esta terça-feira em Gaza por iniciativa própria.

Crianças palestinianas esperam na fila para recolher água na Cidade de Gaza, sábado, 24 de maio de 2025.
Crianças palestinianas esperam na fila para recolher água na Cidade de Gaza, sábado, 24 de maio de 2025.
Jehad Alshrafi / AP

O Departamento de Estado norte-americano rejeitou esta terça-feira críticas da ONU, que qualificou de "cúmulo da hipocrisia", à ajuda humanitária a Gaza através de uma fundação humanitária recém-criada com apoio de Washington.

"É lamentável, porque a preocupação aqui é entregar ajuda a Gaza e, de repente, estamos a queixar-nos da forma como está a ser entregue e da natureza das pessoas que o estão a fazer", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, citada pela agência AFP.
"Isto é o cúmulo da hipocrisia", acrescentou, em resposta às críticas da ONU.

A ONU descreveu esta terça-feira como "de partir o coração" as imagens da distribuição de alimentos que a Fundação Humanitária de Gaza, criada pelos Estados Unidos e sem a aprovação das Nações Unidas, lançou esta terça-feira em Gaza por iniciativa própria.

Falando em nome do secretário-geral da ONU, António Guterres, o porta-voz Stéphane Dujarric reiterou que a ONU "não estava envolvida" na operação.

Embora sem fornecer mais detalhes, o porta-voz referiu-se a imagens de centenas de pessoas que invadiram uma das áreas de distribuição de ajuda administradas pela fundação, perto de Rafah, no sul do enclave palestiniano.

A nova Fundação Humanitária de Gaza (GHF) disse, em comunicado, que "a certa altura da tarde, o volume de pessoas no ponto de distribuição era tal que a equipa da GHF teve de se retirar para permitir que um pequeno número de habitantes de Gaza recebesse a ajuda em segurança e se dispersasse".

Dujarric insistiu que a ONU "não tem confirmação independente do que aconteceu nesses pontos de distribuição", uma vez que a sua organização "não estava lá" e, portanto, só pode confiar no que viu nos "vídeos" que circulam, mas explicou o motivo do seu desconforto.

"Para nós, a ajuda humanitária deve ser distribuída de forma segura e protegida, sob os princípios de independência e imparcialidade, como sempre fizemos", afirmou Dujarric, advogando que a iniciativa desta fundação criada pelos Estados Unidos e com apoio israelita não cumpre esses parâmetros.
"Vimos o plano deles, o que eles publicaram e o que nos apresentaram, e isso não foi feito dentro dos parâmetros que atendem aos nossos princípios e que se aplicam de Gaza, ao Sudão e à Birmânia", enfatizou.

A fundação norte-americana foi criticada desde o início pela ONU por operar em lugares onde um cessar-fogo nem sequer foi declarado, por trabalhar de acordo com as exigências do exército israelita e por deixar muitas mulheres e crianças de fora, entre muitos outros motivos.

A GHF informou esta terça-feira que o grupo islamita palestiniano Hamas estava a bloquear o acesso aos pontos de entrega, causando atrasos na distribuição. No entanto, o governo do Hamas na Faixa de Gaza negou essas acusações, declarando-se "horrorizado" com elas e chamando-as de "invenção total".

Por sua vez, o exército israelita admitiu ter "disparado tiros de advertência na área externa do complexo" para dispersar a multidão e negou rumores de que tropas abriram fogo contra a população a partir de helicópteros, indicou a agência de notícias espanhola EFE.

Com Lusa