Delegações ucranianas e russas aceitaram sentar-se à mesma mesa, esta segunda-feira, na cidade bielorussa de Gomel. O comentador da SIC não está otimista quanto ao resultado destas negociações e acredita que serão aproveitadas apenas para as duas partes reorganizarem as suas forças militares. José Milhazes chama, porém, a atenção para um pormenor que pode ter escapado: a presença na sala de um homem com boné.
As conversações entre representantes ucranianos e russos começaram hoje, ao final da manhã em Portugal. A delegação russa é chefiada pelo conselheiro presidencial Vladimir Medinsky e integra representantes dos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, e do parlamento.
Do lado ucraniano, a delegação integra o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov, que usava roupas militares, o conselheiro presidencial Mikhail Podolyak, o dirigente do partido no poder Servo do Povo David Arakhamia (o homem de boné) e o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Nikolay Tochitsky, entre outros, segundo a agência de notícias ucraniana Ukrinform.
O comentador da SIC, José Milhazes, acredita que este encontro “é um embuste russo” e que “estará a ser aproveitado pelas duas partes para reorganizarem as suas forças militares”. Mas, acrescenta, “mesmo que seja genuíno não terá resultado [porque] as exigências das duas partes estão completamente extremadas”. Para um cessar fogo e a paz, a Ucrânia exige que a Rússia retire as tropas de todo o território da Ucrânia, incluindo da Crimeia e das duas regiões separatistas de Donbass (Luhansk e Donetsk).
“Isto é uma bofetada muito grande dos ucranianos e claro que é impossível ver Putin a aceitar uma coisa destas“, considera José Milhazes.
José Milhazes chama, porém, a atenção para um pormenor que pode ter escapado aos olhos de muitos. Na sala da reunião, “um dos participantes, do lado ucraniano, está sentado com um chapéu desportivo (boné), isto em conversações de paz é um insulto à outra parte: ‘eu estou aqui e quero aquilo que os ucranianos querem, vim de combater não tive tempo de mudar o fato'”.
Além disso, acrescentou, está sentado em frente ao chefe da delegação russa. Mas quem é o senhor do boné? “É [David Arakhamia] presidente do partido Servo do Povo, do presidente Zelenski, e esta forma de participar nestas conversações é um sinal de que a Ucrânia está disposta a ir até tudo e a não se submeter aos senhores de gravata”, aos russos.
E os russos quem são? Um deles, explica José Milhazes, é “um deputado nacionalista russo, conhecido por assédio sexual a numerosas jornalistas, outro é o historiador de Putin”, os homens de Moscovo “parecem ter sido escolhidos a dedo para representar Putin” e para, vinca, falhar um acordo.
“O tal historiador [de Putin] tem dito e escrito coisas aberrantes, defende que a Ucrânia não deve existir, e o outro trata-se de um tarado sexual que além desse desvio, tem a mania que a Rússia pode impor tudo o que quiser aos outros países”
Acontece que, conclui José Milhazes, “os ucranianos não vão ceder, estão a resistir e vão resistir até ao fim. E já surpreenderam o mundo e aqueles que conheciam mal aquele povo, que tinham a ideia que deviam render-se”. Mas, “mesmo que a Rússia ocupe Kiev, a luta vai continuar”, acredita o comentador da SIC.
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