Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós:
1 — A RÚSSIA CADA VEZ MAIS PERTO DO ESPAÇO NATO
Bombardeamentos perto de Lviv, a apenas 15 quilómetros da fronteira com a Polónia, mostram que Putin tem interesse em desafiar e provocar a NATO e a UE. O ataque russo à base militar da Yavoriv, nessa zona oeste da Ucrânia, uma das maiores do exército ucraniano, fez 35 mortos e mais de duas centenas de feridos, num dos momentos mais significativos desde o início da Guerra. Nesse ataque à base de Yavoriv, a Rússia diz ter conseguido eliminar 180 mercenários, Ucrânia desmente completamente.
A primeira ilação que se retira é que Putin está a provocar a NATO ao limite. Talvez para distrair atenções dos grandes problemas que tem tido no terreno – mantendo assim a iniciativa pelo medo e pela projeção de imprevisibilidade. Os bombardeamentos de ontem na zona de Lviv são profundamente irresponsáveis porque se realizaram numa zona muito próxima da Polónia – e por isso da UE e da NATO. Há, sem dúvida, a afirmação de uma nova fase nesta guerra, com Putin a reforçar a opção maximalista: atacar a Ucrânia por todas as frentes, possivelmente por mísseis de longo alcance (o ataque terá sido feito pelo Mar Negro, pelo lançamento de um míssil de um navio da frota russa).
2 — EUA GARANTEM QUE MORTE DE JORNALISTA NA UCRÂNIA “VAI TER CONSEQUÊNCIAS”
Os Estados Unidos garantem que a morte do jornalista norte-americano Brent Renaud na Ucrânia vai ter consequências. O jornalista foi morto e outro ficou ferido num tiroteio em Irpin, perto de Kiev. O carro em que seguia o jornalista e um outro repórter foi alvejado a tiro por militares russos. «Estamos a consultar os ucranianos para determinar como isso aconteceu», disse Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Joe Biden, à CBS, classificando a morte como «chocante e horrível». Cliff Levy, no New York Times, rotulou Renaud de «talentoso fotógrafo e cineasta».
3 — SINAIS DE AVANÇOS NAS NEGOCIAÇÕES, MAS FALTAM PORMENORES
A Rússia indica que pode haver avanços significativos nos próximos dias à mesa das negociações. O lado ucraniano também alimenta essa expectativa quanto a “algum acordo”. Estará prevista reunião das duas delegações (as mesmas que iniciaram rondas que iam em três encontros na Bielorrússia) para as 8h30 de Portugal continental, por videoconferência.
Mas faltam mais detalhes sobre o que pode ser conseguido e salta à vista a contradição: enquanto ambas as partes mostram acreditar na diplomacia, no terreno os russos mantêm várias frentes de combate e alargam agressividade e capacidade destrutiva. É a suprema ambiguidade, bem ao gosto de Moscovo.
Nos próximos dias pode ser também possível confirmar um encontro Putin/Zelensky em Israel, promovido pelo primeiro ministro Naftali Bennet.
4 — EUA E CHINA JUNTOS ESTA SEGUNDA EM ROMA
É o primeiro encontro bilateral entre as duas grandes potências rivais desde o início da guerra na Ucrânia. Há alguma expectativa sobre se pode haver entendimento sobre algum mandato americano quanto a credenciar a China como possível mediador. Mas há sobretudo desconfiança de parte a parte.
A reunião será ao nível dos Conselheiros de Segurança Nacional (Jake Sullivan e Yang Jiechi, que já se tinham encontrado em outubro passado), uma espécie de “terceiro patamar”, logo a seguir aos presidentes e chefes da diplomacia. Os dois líderes e as suas respetivas equipas “vão discutir os esforços em andamento para gerir a competição entre (os) dois países e o impacto da guerra da Rússia contra a Ucrânia na segurança regional e global”, disse Emily Horne, porta-voz do Conselho de Segurança Interna da Casa Branca, num comunicado. Washington alertou Pequim que enfrentará “consequências” se ajudar a Rússia a evitar as sanções ocidentais impostas desde a invasão da Ucrânia.
Pequim não condenou diretamente a invasão da Ucrânia por Moscovo e culpou repetidamente a “expansão da NATO para o Leste”, pelo agravamento das tensões entre Kiev e Moscovo, um dos principais pedidos do presidente russo, Vladimir Putin.
A Administração Biden, nos últimos dias, tem também acusado a China de amplificar a desinformação russa. O “Financial Times” e o “New York Times” avançaram ontem com notícia que aponta para que a Rússia terá pedido à China “assistência militar”, já no início da invasão da Ucrânia – algo que Pequim já desmentiu.
5 — BORIS JOHNSON PROMOVE CIMEIRA SOBRE POLÍTICA EUROPEIA DE DEFESA
O Reino Unido será anfitrião de encontro com países nórdicos e bálticos para articular política de segurança e defesa em todo o espaço europeu, agora que a ameaça russa nas fronteiras com o espaço NATO é cada vez mais concreta. O encontro será no âmbito da Força Expedicionária Conjunta.
Líderes nórdicos e bálticos participarão numa reunião em Londres esta semana, organizada pelo primeiro-ministro Johnson, em esforço britânico para liderar a tarefa de garantir que nenhum ator ou governo maligno possa comprometer a segurança europeia novamente. Johnson receberá os líderes da Força Expedicionária Conjunta, coligação de segurança do norte da Europa, que reúne representantes da Dinamarca, Finlândia, Estônia, Islândia, Letônia, Lituânia, Países Baixos, Suécia e Noruega.
Obviamente, o ponto forte será a guerra na Ucrânia, mas também a segurança energética de longo prazo e como podem ajudar a reconstrução da Ucrânia após a guerra. O grupo enfrenta um conjunto único de ameaças da Rússia, com alguns membros enfrentando agressões nas suas fronteiras terrestres, nos céus e nos mares do Norte e Báltico. Muitos também enfrentam ameaças cibernéticas crescentes.
Os líderes vão reunir em Londres na terça-feira antes que o PM britânico receba os líderes da Finlândia e da Suécia em Downing Street à tarde. Boris deve receber o primeiro-ministro da Letónia antes da reunião na segunda-feira.