Uma manifestante contra a guerra na Ucrânia interrompeu um noticiário em direto, na estação de televisão estatal russo Canal Um, esta segunda-feira, a segurar um cartaz a pedir o fim do conflito, ao mesmo tempo que gritava denúncias sobre a invasão pela Rússia.
No cartaz, em inglês e em russo, lê-se “Não à guerra! Parem a guerra! Não acreditem em propaganda! Eles estão a mentir-vos”, surgindo também uma referência aos “russos contra a guerra”.
Вау. Девушка крутая pic.twitter.com/QXC6s4DPki
— Кира Ярмыш (@Kira_Yarmysh) March 14, 2022
A manifestante pode ser vista e ouvida durante alguns segundos, antes de o canal colocar uma reportagem no ar.
“Uau, esta rapariga é fixe”, escreve a porta-voz do líder da oposição Alexei Navalny, Kira Yarmysh, no Twitter.
Yarmysh publicou um vídeo do acontecimento que rapidamente acumulou mais de 2,6 milhões de visualizações.
Marina, uma russa pela paz
A mulher foi identificada pelo grupo independente de monitorização de protestos OVD-Info, e também pelo diretor da organização de direitos humanos Agora, Pavel Chikov, como Marina Ovsyannikova, funcionária do Canal Um. Chikov diz ainda que Marina foi presa e levada para uma esquadra da polícia de Moscovo.
A agência de notícias Tass diz que Marina pode enfrentar acusações no âmbito de uma lei contra o “descrédito” das Forças Armadas, citando uma fonte policial.
Esta lei, aprovada a 4 de março deste ano, considera ilegais as ações públicas destinadas a desacreditar o exército russo e proíbe a disseminação de “fake news” ou a “divulgação pública de informações deliberadamente falsas sobre a ação das Forças Armadas da Federação Russa”. O crime prevê uma pena de prisão de até 15 anos.
“A Rússia é o país agressor”
Num vídeo gravado antes do incidente e publicado online, uma mulher que parece ser Marina Ovsyannikova descreve-se como uma funcionária do Canal Um e diz que se encontra envergonhada por ter trabalhado durante anos a espalhar propaganda do Kremlin.
“O que está a acontecer agora na Ucrânia é um crime e a Rússia é o país agressor”, diz ainda a filha de pai ucraniano e de mãe russa.
Marina acrescenta que “a responsabilidade por esta agressão recai sobre a consciência de apenas um homem, e esse homem é Vladimir Putin”.
“Agora, o mundo inteiro afastou-se de nós e as nossas próximas dez gerações não conseguirão lavar a vergonha desta guerra fratricida”, sublinha.
Por fim, Marina exorta os russos a saírem à rua e a manifestarem-se, num momento em que as autoridades dispersam protestos antiguerra.
⚡️The girl with the ani-war poster is “Channel One” editor Marina Ovsyannikova. She’s already been arrested
— NEXTA (@nexta_tv) March 14, 2022
Before going on air, the girl recorded a video message in which she condemned the war in #Ukraine and stated that she was ashamed of her propaganda activities. pic.twitter.com/cMraAQCw5R
Canal pró-Kremlin
A televisão estatal é a principal fonte de notícias para milhões de russos e segue de perto a linha do Kremlin, defendendo que a Rússia foi forçada a agir na Ucrânia para desmilitarizar e “desnazificar” o país e defender os russófonos contra o “genocídio”.
A Ucrânia e a maior parte do mundo condenam a alegada justificação e consideram-na um falso pretexto para a invasão de um país democrático.
Quase 15 mil presos antiguerra na Rússia
Este ato de dissidência ocorreu no décimo nono dia de guerra na Ucrânia, que começou quando a Rússia invadiu o país a 24 de fevereiro, naquilo que chama de “operação militar especial”.
De acordo com a OVD-Info, que monitoriza os protestos contra a invasão russa e presta assistência jurídica aos detidos, um total de 14.911 pessoas já foram presas desde o início da operação.