Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XXV): chegou a hora das grandes potências

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (XXV): chegou a hora das grandes potências

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – BIDEN E XI AMANHÃ AO TELEFONE.

Os Presidentes de EUA e China têm conversa marcada para esta sexta-feira. A prioridade da Administração Biden é a de evitar que Pequim dê ajuda decisiva para que Moscovo possa continuar a guerra. As sanções estão a ter impacto, a economia russa está a sofrer as consequências, o risco de “default” está ao virar da esquina. Chegou a hora de Washington e Moscovo falarem ao mais alto nível, dias depois da conversa em Roma ao nível dos conselheiros de Segurança Nacional. O telefonema ocorre em momento crucial nas relações EUA-China e na Ucrânia. O governo Biden emitiu alertas públicos e privados de que Pequim enfrentaria consequências terríveis se decidir fornecer apoio material à guerra do presidente russo, Vladimir Putin. Biden e Xi “discutirão a gestão da rivalidade” entre os dois países, bem como a guerra da Rússia contra a Ucrânia e outras questões de interesse mútuo, como parte de um esforço contínuo para manter as linhas de comunicação abertas.

2 – PUTIN E ZELENSKY NA MESMA SALA? PODE ACONTECER.

Hoje ainda não seria possível, mas numa próxima etapa deste tão delicado processo pode ser uma realidade. Zelensky e Putin, os presidentes do país agredido e da potência agressora, poderão vir a ter uma reunião especial em fase mais adiantadas das negociações Ucrânia vs Rússia, de modo a que se possa atingir um ponto em que o cessar-fogo seja possível e durável. Mikhaylo Podolyak, assessor do presidente da Ucrânia, adianta que “as negociações são um processo de grande envergadura que envolve não só a Rússia e a Ucrânia”, mas também outros países, como a Polónia, estão indiretamente associados.

3 – A TRAGÉDIA DE MARIUPOL.

Cerca de 30.000 pessoas já fugiram de Mariupol, mas mais de 350.000 permanecem, avança a autarquia local. Mariupol está sitiada há duas semanas e talvez deva ser considera como cidade-mártir da guerra da Ucrânia. A Câmara Municipal de Mariupol especificou no Telegram que “80% das habitações foram destruídas”. Quanto ao número exato de vítimas do bombardeamento ao teatro, faltam ainda confirmações. A Ucrânia acusou a Rússia de bombardear um teatro em Mariupol, onde centenas de pessoas estavam abrigadas, apesar de uma placa escrita no chão avisar “DETI” – crianças, em russo. A autarquia de Mariupol garantiu que uma piscina que abrigava civis, “principalmente mulheres, crianças e idosos”, também foi bombardeada.

4 – E KIEV RESISTE. AINDA. OU MELHOR: CADA VEZ MAIS

A Rússia tenta fazer progressos militares dentro e ao redor de Kiev, mas nesta fase sobram dúvidas sobre se vai mesmo tentar tomar a capital ucraniana, depois de tantos dias de impasse. Estima-se que 7.000 soldados russos morreram nos combates até agora e 10% do equipamento do exército invasor também foi destruído, levantando questões sobre se o exército no terreno tem vontade de continuar a lutar. Começa a ser possível imaginar que a Ucrânia resistirá até que a Rússia desista, receosa de novo falhanço militar. A Grã-Bretanha e outros países ocidentais acreditam que essas discussões estão a tornar-se cada vez mais sérias. Até Macron já admite ir a Kiev “se ta for possível e no momento oportuno”.

5 – CRESCE O CASO SOBRE UMA RÚSSIA “CRIMINOSA DE GUERRA”

A Rússia foi acusada pela Grã-Bretanha, EUA, França, Albânia, Irlanda e Noruega de crimes de guerra na Ucrânia. Liz Truss, chefe da diplomacia de Londres, diz que há ‘provas muito fortes’, e França diz que Putin está apenas a fingir que pretende negociar. As seis nações desafiaram a Rússia antes de uma reunião do conselho de segurança da ONU. “Em última análise, é uma questão para o tribunal penal internacional decidir quem é ou não um crime de guerra e para nós apresentarmos as evidências”, apontou Liz Truss.