Guerra Rússia-Ucrânia

Rússia desiste de levar a votação “resolução humanitária” sobre a Ucrânia na ONU

Rússia aproveitará para pedir para esta sexta-feira de manhã uma reunião de emergência para discutir novamente alegados “laboratórios biológicos”.

Rússia desiste de levar a votação “resolução humanitária” sobre a Ucrânia na ONU

O embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, informou esta quinta-feira que não levará a votação na sexta-feira a sua proposta de resolução “humanitária” sobre a Ucrânia, um projeto que, segundo diplomatas, estava já “condenado”.

“Decidimos, nesta fase, não pedir uma votação sobre o nosso projeto, mas não estamos a retirar o projeto de resolução”, indicou o embaixador russo em declarações no Conselho de Segurança da ONU.

Ainda segundo Nebenzya, a Rússia aproveitará para pedir para esta sexta-feira de manhã uma reunião de emergência para discutir novamente alegados “laboratórios biológicos” na Ucrânia, afirmando ter “novas provas” para apresentar.

Seis países pediram reunião de emergência

Estados Unidos, Reino Unido, Albânia, França, Noruega e Irlanda pediram a reunião de emergência desta quinta-feira do Conselho de Segurança da ONU, devido à deterioração da situação humanitária na Ucrânia.

A resolução “humanitária” sobre a Ucrânia elaborado pela Rússia foi visto por vários diplomatas como uma “hipocrisia”, tendo em conta que foi a própria Rússia a causar “esta guerra ilegal”, e pela falta de apoio o projeto estaria condenado ao fracasso.

O embaixador albanês, Ferit Hoxha, afirmou que a resolução russa é da “maior hipocrisia, do tamanho da Rússia”, e “deveria estar no livro de recordes do Guinness”.

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse ter “ficado momentaneamente satisfeita” ao saber que os russos retiravam de votação a “sua ridícula resolução humanitária, que estava condenada ao fracasso”.

“Sabemos que, se a Rússia realmente se importasse com as crises humanitárias – aquela que criou – poderia simplesmente parar os seus ataques ao povo da Ucrânia”, disse. “Mas, em vez disso, a Rússia quer convocar outra reunião do Conselho de Segurança para usar este Conselho como um local para a sua desinformação e para promover a sua propaganda”, acrescentou a diplomata norte-americana.

Thomas-Greenfield referia-se a uma sessão extraordinária do Conselho de Segurança que decorreu na semana passada, a pedido da Rússia, que aproveitou o espaço para alegar que a Ucrânia possui dezenas de laboratórios biológicos experimentais perigosos para criar agentes patogénicos, alegadamente financiados pelo Governo norte-americano.

Na ocasião, a Rússia foi acusada de convocar o Conselho de Segurança da ONU para difundir propaganda favorável ao Kremlin.

“Não esqueçamos que a Rússia é o agressor neste caso. São eles que estão a criar um pretexto para ataques ao seu próprio povo, e não podemos ser enganados pelos seus esforços aqui. Eles têm tropas dentro da Ucrânia. Eles estão a matar pessoas dentro da Ucrânia. Essa é a razão de estarmos aqui hoje, não para lidar com a propaganda deles”, reforçou a diplomata norte-americana.

Por outro lado, Vasily Nebenzya afirmou que recebeu denúncias de aliados de que estariam a ser pressionados para não apoiar a sua resolução humanitária sobre a Ucrânia. No discurso, o embaixador russo acusou ainda os países ocidentais de “alimentarem este conflito”, citando o armamento e o apoio financeiro multimilionário enviados pelos EUA à Ucrânia.

“Só a Rússia pode acabar com esta guerra”

Vários dos diplomatas que discursaram no Conselho de Segurança frisaram que cabe apenas à Rússia travar a matança que está a acontecer na Ucrânia.

“A Rússia é responsável pelo sofrimento que infligiu à Ucrânia e mais além. Só a Rússia pode acabar com esta guerra. (…) Se a Rússia realmente quisesse proteger mulheres e crianças, retiraria as suas tropas da Ucrânia e acabaria com essa invasão ilegal hoje”, apelou a embaixadora do Reino Unido da ONU, Barbara Woodward.

A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 22.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos e feridos, que poderá ser da ordem dos milhares. Embora admitindo que “os números reais são consideravelmente mais elevados”, a ONU confirmou esta quinta-feira pelo menos 780 mortos e 1.252 feridos entre a população civil, incluindo várias dezenas de crianças.