O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de “colonialismo”, por retirar “centenas de milhares” de ucranianos do seu país, criticando a passividade do Conselho de Segurança das Nações Unidas perante a ofensiva russa.
“Querem transformar ucranianos em escravos silenciosos“, afirmou Zelensky perante o Conselho de Segurança da ONU, em Nova Iorque, em intervenção por videoconferência.
Zelensky acusou Moscovo de ter uma atitude “colonialista”, levando “centenas de milhares” de ucranianos para a Rússia, incluindo crianças.
Numa reunião que está a ser dominada pelo alegado massacre de civis por parte das forças russas em Bucha, Volodymyr Zelensky comparou as tropas russas ao grupo terrorista Daesh.
“Ontem [segunda-feira] regressei de Bucha, não há um único crime que os militares russos não tenham cometido. (…) mataram todos os que encontraram pelo caminho. Foram torturados, antes de serem mortos”, detalhou.
“Foram mortos nas ruas, em suas casas, esmagados pelos tanques enquanto estavam nos carros, mulheres violadas em frente aos filhos. Isso não é diferente do que outros terroristas fizeram, como o Daesh, e isso é feito por um membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, comparou o líder ucraniano.
Volodymyr Zelensky afirmou que os “mais terríveis crimes” estão a ser cometidos na Ucrânia pelos russos, como disparar contra colunas de civis que tentam escapar ou atacar refúgios de civis deliberadamente.
“O massacre de Bucha é apenas um de muitos que [os russos] estão a fazer desde que a guerra começou”, garantiu.
O Presidente da Ucrânia aproveitou a sua audiência no Conselho de Segurança para exibir aos diplomatas junto da ONU um vídeo com imagens chocantes das mortes e torturas que alegadamente têm sido cometidas pelas tropas russas.
🇺🇦 Na reunião do conselho de segurança da ONU, o Presidente Zelensky falou sobre os massacres contra civis que estão surgindo em várias cidades com a retirada dos Russos próximos a Kiev.
— Paulo Henrique Araujo🍥 (@pharaujo85) April 5, 2022
Ao final foi apresentado este vídeo com as atrocidades promovidas pelo exército de Putin. pic.twitter.com/QaO5eBBCFC
Centenas de civis mortos foram encontrados em Bucha, uma cidade a 60 quilómetros de Kiev, espalhados pelas ruas, nalguns casos com as mãos amarradas nas costas e atirados em valas comuns, tendo as autoridades ucranianas e os seus aliados acusado os soldados russos de terem cometido esses crimes quando abandonaram a cidade.
Moscovo rejeitou qualquer responsabilidade e disse que foi feita uma encenação por Kiev.
Para tentar garantir que a Rússia seja responsabilizada, o líder ucraniano pediu uma reforma imediata do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que permita ao organismo ser “realmente eficaz” e “garantir a paz”, sublinhando que “é hora de transformar a estrutura das Nações Unidas”.
“Temos de fazer tudo o que está nas nossas mãos para dar às futuras gerações uma ONU eficaz”, disse Zelensky.
Zelensky também pediu a exclusão da Rússia do Conselho de Segurança, do qual é um dos cinco membros permanentes e onde tem poder de veto, que tem usado para travar resoluções contrárias às pretensões russas.
Na presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, Zelensky pediu “decisões do Conselho de Segurança para a paz na Ucrânia”.
“Se não sabem como tomar essa decisão, podem fazer duas coisas: ou excluir a Rússia como agressora e iniciadora da guerra para que ela não bloqueie as decisões relacionadas com a sua própria agressão (…) ou, por favor, mostrar que podemos reformar ou mudar (…). Se não houver alternativa e opção, a próxima opção seria uma dissolução conjunta”, declarou o Presidente ucraniano.
A atuação russa na Ucrânia foi condenada pela generalidade dos diplomatas presentes na reunião, que pedem agora que a Rússia seja suspensa do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
“O Presidente Zelensky relatou aqui que crianças estão a ser sequestradas. Também são sequestrados autarcas, médicos, líderes religiosos, jornalistas e todos os que se atrevem a desafiar a agressão da Rússia. Alguns deles, de acordo com relatórios fidedignos – inclusive do Conselho Municipal de Mariupol – foram levados para os chamados campos de filtragem, a partir de onde as forças russas estão a fazer dezenas de milhares de cidadãos ucranianos mudarem-se para a Rússia”, disse a embaixadora norte-americana, Linda Thomas-Greenfield.
“Todos os dias, vemos cada vez mais como a Rússia respeita pouco os direitos humanos. E é por isso que anunciei na segunda-feira que os Estados Unidos, em coordenação com a Ucrânia e muitos outros Estados membros da ONU, procurarão a suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU”, acrescentou a diplomata.
A mesma posição foi defendida pelo embaixador da Albânia na ONU, Ferit Hoxha, que aproveitou ainda para ressaltar que “nunca um país foi tão sancionado como a Rússia”.
“A Rússia passou de um ator global para um pária internacional“, afirmou Hoxha.
Já o embaixador russo nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, voltou a negar as acusações de que as tropas russas estão a atacar civis, e classificou as alegações de abuso como “mentiras”.
Nebenzia afirmou que Moscovo está a tentar levar a paz à região separatista do Donbass, no leste da Ucrânia, e não pretende “conquistar terras” na Ucrânia.
“Não estamos a disparar contra alvos civis para salvar o maior número possível de civis. É precisamente por isso que não estamos a avançar tão rápido quanto muitos esperavam”, justificou o diplomata russo perante o Conselho de Segurança.
Nebenzia declarou ainda que são os próprios militares ucranianos a matar civis e afirmou ter testemunhas “que estão prontas a falar do que realmente os ucranianos estão a fazer”, declarações essas que foram duramente criticadas pelos diplomatas ocidentais na ONU.
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