Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.
1 – “NADA MAIS QUE ÓDIO PELO EXÉRCITO RUSSO”
Após a visita a Bucha, uma das cidades mártires desta guerra, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, teve palavras duras em tom emocional: “Saio daqui com nada mais que ódio pelo exército russo. À BBC, acrescentou: “A questão não sou eu, é a Rússia. Não vão ter muitas mais oportunidades de falar comigo”. Zelensky acusou o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, e todo o exército russo, “de cima a baixo”, de “crimes de guerra”. Nesta entrevista, Zelensky falou também da situação de Mariupol, onde acredita que dezenas de milhares de pessoas morreram e muitas outras estão desaparecidas. “Temos informação que, além das dezenas de milhares de mortes, muitos desapareceram. Sabemos que os seus documentos foram substituídos, receberam passaportes russos e levaram-nos para o interior da Rússia, alguns para o campo, outros para as cidades. Ninguém sabe o que aconteceu a estas pessoas. Ninguém sabe quantos foram mortos”.
2 – “A PALAVRA CHAVE É: ‘AGORA’”
Zelensky, na entrevista à BBC, voltou a criticar os países europeus que continuam a comprar petróleo russo, acusando-os de “ganharem dinheiro com o sangue dos outros”. O foco das críticas do líder ucraniano está em dois países europeus, que acusa de furarem o consenso europeu a 27, que ainda durou várias semanas, em torno desta guerra: a Hungria e a Alemanha. O Presidente ucraniano acusa Budapeste e Berlim de tentarem impedir um embargo à venda de energia pela Rússia que, segundo a BBC, este ano deverá ganhar 326 mil milhões de euros com o negócio. “Alguns dos nossos amigos e parceiros entendem que este é um tempo diferente, que já não é só uma questão de negócios e dinheiro. É uma questão de sobrevivência”. Zelensky pediu também aos países aliados que sejam mais rápidos a fornecer armas à Ucrânia: “Os Estados Unidos, o Reino Unido, alguns países europeus, estão a tentar ajudar e estão a ajudar. Mas continuamos a precisar delas mais cedo e mais depressa. A palavra chave é ‘agora’.”
3 – EMBAIXADA FRANCESA NA UCRÂNIA VOLTA PARA KIEV
A França tinha mudado a sua embaixada na Ucrânia, em fevereiro, de Kiev para Lviv, dias antes do início da invasão russa. Este regresso, reforçaria a confiança de que os russos tão cedo não conseguirão voltar a ameaçar Kiev, algo que, por exemplo, a República Checa também fez ontem. Os Estados Unidos estão neste momento a avaliar se fazem regressar a Kiev a sua embaixada na Ucrânia. Um movimento diplomático que pode, no entanto, vir a ter um retrocesso, em função dos acontecimentos das últimas horas.
Kiev foi alvo de bombardeamentos durante a manhã desta sexta-feira, resultando em fortes explosões que já não se verificavam desde que as tropas russas saíram dos arredores da capital ucraniana, há cerca de duas semanas. Moscovo garante que atingiu uma infraestrutura na capital que fazia e reparava mísseis ucranianos. À Reuters, um mecânico local disse ter ouvido três explosões que deram origem a um incêndio.
4 – MÍSSEIS DE LONGO ALCANCE PARA ATACAR MARIUPOL
A Rússia usou pela primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia mísseis de longo alcance para atacar a cidade de Mariupol, disse hoje o porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano, Oleksandr Motuzyanyk. A cidade portuária de Mariupol, junto ao mar de Azov, é um dos principais objetivos russos para conseguir o controlo total da região do Donbass e formar um corredor terrestre no leste do país a partir da península da Crimeia, anexada em 2014. Pelo menos sete pessoas morreram e 34 ficaram feridas num bombardeamento russo a uma zona residencial de Kharkiv, adiantou hoje o governador daquela região do nordeste da Ucrânia, noticia a AFP. “Os ocupantes dispararam sobre uma das zonas residenciais da cidade de Kharkiv. Infelizmente, 34 pessoas foram feridas, incluindo três crianças e sete pessoas foram mortas, incluindo uma criança de sete meses”, adiantou na rede social Telegram Oleg Sinegoubov.
5 – A CARTA DE SILUANOV A PAULO GUEDES
Moscovo reconhece o impacto das sanções: a Rússia pede ajuda do Brasil no FMI, Banco Mundial e G20. A carta do ministro russo das Finanças, Anton Siluanov, ao homólogo brasileiro Paulo Guedes, revelada pelo “Globo”, aponta pedido de Siluanov no sentido de que o governo de Brasília ajude Moscovo a enfrentar as sanções, mantendo “trabalho construtivo”. Perante as sanções e a anunciada alternativa que os países europeus pretendem construir em relação à dependência energética de Moscovo, a Rússia anuncia um movimento mais do que esperado: aproveitar esse problema para reforçar a aliança asiática que tem vindo a construir — o que aumenta ainda mais a importância de vermos os sinais de Pequim e Nova Deli sobre o alinhamento mais ou menos assumido que insistem em ter com Moscovo.