A SIC esteve num Hospital Pediátrico em Zaporizhia, na Ucrânia, onde já foram tratadas 50 crianças com ferimentos de guerra, desde o início da invasão da Rússia.
Kateryna Semenova tem 14 anos. Até há dois meses frequentava a escola. Tinha uma casa, amigos, uma rotina e uma cidade: Mariupol.
“Ouvimos uma explosão, tentei correr para o abrigo, mas não tive tempo. Um míssil atingiu a nossa casa, o nosso carro e a casa do lado. Vi tudo cor de laranja e senti uma dor na mão e nas costas. A minha avó e o meu irmão correram para mim e fomos para o abrigo. Aí, a minha avó tratou-me das feridas”, diz.
Já a avó da jovem conta:
“Ouvi a minha neta chorar, corri para ela e percebi que estava ferida, estava a perder muito sangue. Primeiro foi um choque, mas tive de reagir e comecei a tratar-lhe as feridas com os poucos recursos que tínhamos no abrigo”.
A jovem perdeu a mãe aos quatro anos. Há dois meses que não vê o pai, voluntário nas unidades de defesa territorial.
Escapou de Mariupol com a avó e o irmão, num corredor humanitário no início do mês. Ainda assim, ambulância em que seguia com várias outras crianças ficou retida pelas tropas russas durante três dias.
Mais de 50 crianças com ferimentos de guerra foram tratadas nos últimos dois meses no hospital de Zaporizhia. Dois terços vieram de Mariupol. Estão todas a receber apoio psicológico.
“Algumas crianças viram morrer o pai ou a mãe. Um rapaz de 6 anos perguntou-nos se lhe podíamos arranjar uma mãe porque a mãe dele tinha prometido levá-lo à escola e ele estava à espera. Esta criança viu a mãe morrer queimada dentro do carro”, afirma Yurii
A SIC esteve no local em que cinco crianças da unidade de oncologia passaram o último mês e meio. A situação clínica impedia-as de descer ao bunker várias vezes por dia. As sessões de quimioterapia passaram a fazer-se na cave.
É também debaixo do solo que têm passado boa parte do tempo os seis bebés que aqui estão internados desde que nasceram, já os russos tinham invadido a Ucrânia a pretexto de a libertar.
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