A Rússia confirmou que bombardeou na quinta-feira Kiev, durante a visita do secretário-geral da ONU, António Guterres, provocando a morte de uma jornalista ucraniana da Radio Liberty, um meio de comunicação social financiado pelos Estados Unidos.
“As forças russas destruíram, com armas de alta precisão de longo alcance, as fábricas da empresa espacial Artyom” na capital ucraniana, disse o Ministério da Defesa russo.
A Rússia assumiu que atingiu Kiev, alegando ter como alvo alvos militares estratégicos. O ataque fez 10 feridos e pelo menos um morto: Vira Ghyrytch, jornalista ucraniana da Radio Liberty/Radio Free Europe, um órgão de comunicação social financiado por Washington desde a época da Guerra Fria. O corpo da jornalista foi encontrado nos escombros do seu prédio.
Os bombardeamentos ocorreram quando António Guterres, que realizou a sua primeira viagem à Ucrânia desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro, se encontrava em Kiev. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, lamentou num vídeo esta sexta-feira à noite publicado “que uma humilhação tão brutal e deliberada das Nações Unidas tem ficado sem resposta“.
Alemanha e França condenaram o ataque veementemente, enquanto Berlim considerou que a ofensiva mostrou, mais uma vez, “que [Vladimir] Putin e o seu regime não respeitam o direito internacional“. O Pentágono acusou o Chefe de Estado russo de “depravação” e “crueldade” pela maneira como as forças do Kremlin se comportam na Ucrânia.
“É difícil olhar para algumas imagens e imaginar um líder sério fazer isso“, disse o porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, John Kirby.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, não viu os ataques russos de quinta-feira a Kiev como um desrespeito por ele ou pela ONU, mas sim pelo povo ucraniano, disse esta sexta-feira o seu porta-voz.
“O secretário-geral (…) deixou claro que via isso [ataques] como mais uma razão pela qual a guerra deveria ser cessada. Ele tomou isso realmente como um sinal, não de desrespeito por ele, mas pelo povo de Kiev. E também ficamos a saber, é claro, que um jornalista foi morto nesses ataques, e enviamos as nossas condolências. Mas, claramente, esses tipos de ataques precisam de parar“, disse Farhan Haq, porta-voz adjunto de Guterres.
O porta-voz informou ainda que a equipa da ONU não foi afetada pelos ataques, por “estar a alguma distância” dos bombardeamentos, mas que as autoridades ucranianas determinarão essa distância.
Kiev foi alvo na quinta-feira de bombardeamentos por parte das forças russas enquanto decorria a visita do secretário-geral da ONU, deixando cerca de dez feridos e um morto. Logo após os ataques, António Guterres informou estar “seguro”, mas “chocado” com a situação.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, rapidamente classificou o ataque como um “ato hediondo de barbárie”, indicando que os dispositivos disparados eram mísseis de cruzeiro.
“A Rússia mais uma vez demonstra a sua atitude em relação à Ucrânia, à Europa e ao mundo“, acrescentou.
Já o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiï Reznikov, por sua vez, declarou tratar-se de um “ataque à segurança do secretário-geral (da ONU) e à segurança mundial”.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas anunciou que discutirá na próxima semana os ataques de que Kiev foi alvo durante a visita António Guterres à cidade.
Questionado sobre os avanços na retirada de civis de Mariupol, Farhan Haq afirmou não poder entrar mais detalhes “porque a situação é complexa e fluida”, e a ONU quer ter a certeza de que a operação corre da melhor forma.
CONFLITO RÚSSIA-UCRÂNIA
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