Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: acolher a Ucrânia, acomodar quem já estava na fila

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito: acolher a Ucrânia, acomodar quem já estava na fila

Dez pontos semanais para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 CONSELHO EUROPEU ATRIBUI À UCRÂNIA E MOLDÁVIA ESTATUTO DE CANDIDATOS E DÁ PERSPETIVAS EUROPEIAS À GEÓRGIA

Von der Leyen exultou: “O futuro da Ucrânia é na EU. Foi um bom dia para a Europa”. A presidente da Comissão fala em “vento de mudança” sobre adesão de Ucrânia à UE: “A História está em marcha. Falo do vento de mudança que sopra novamente no nosso continente. Com as suas candidaturas, a Ucrânia, a Moldávia e a Geórgia dizem-nos que querem mudança”.

Macron também foi claro: “Esta foi uma decisão coerente de Europa coesa, que respondeu com as sanções, com a resposta macroeconómica e financeira e agora também política”.

Zelensky definiu assim o momento: “É como ir para a luz vindo da escuridão. Esperámos 120 dias (de guerra) e 30 anos por isto”

2 – “A UCRÂNIA NÃO É UMA ZONA CINZENTA”

“A Ucrânia não é uma zona cinzenta, não é um território de trânsito”. Zelensky retirou esta conclusão positiva da boa notícia da confirmação do processo de candidatura de Kiev à UE: “É oficialmente reconhecido que a Ucrânia não é uma ponte, não é uma travessia entre o Ocidente e a Rússia, não é um amortecedor entre a Europa e a Ásia, não é uma esfera de influência, não é uma zona cinzenta, não é um território de trânsito. Não a fronteira entre orcs e elfos. A Ucrânia é um futuro parceiro igualitário para pelo menos 27 países da UE. A Ucrânia é candidata à adesão à União Europeia!”

3 – SCHOLZ E O CAMINHO (DIFÍCIL) DA EXPANSÃO EUROPEIA

O Chanceler Scholz afirmou que a União Europeia deve preparar-se para uma “expansão”, ao mesmo tempo que “estabelece as condições para que a Ucrânia possa manter-se no seu caminho promissor” em direção à UE.

Será suficiente para acomodar as insatisfações de países que há tantos anos esperam para entrar, como Turquia, Macedónia do Norte, Bósnia, Albânia ou Sérvia?

4 ALEMANHA ADMITE CENÁRIO DE TER QUE RACIONAR GÁS

Os consumidores alemães podem ver os custos com a energia duplicarem ou mesmo triplicarem a partir de uma base que, nalguns casos, já é entre 30 e 80 por cento mais alta desde o último outono, declarou o diretor do regulador da rede Bundesnetzagentur, Klaus Mueller, ao canal ARD.

A Alemanha entra na fase 2 de plano de emergência sobre gás, que tem três níveis. Esta fase é ativada quando há “risco elevado” de problemas no fornecimento de gás a longo-prazo. Com o país neste nível, o governo pode permitir às fornecedoras que reflitam o aumento dos preços para o consumidor, de forma a baixar a procura.

O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, recusou excluir a possibilidade de vir a racionar a distribuição de gás no país, no mesmo dia em que a Alemanha subiu para o nível 2 o seu plano de emergência sobre o fornecimento de gás. “Se tudo correr bem, nunca”, disse Habeck, um dos líderes do partido Os Verdes, sobre a possibilidade de vir a racionar a distribuição de gás. “Mas claro que não posso excluir essa opção.”

“As pessoas na Alemanha aceitam os preços altos e a alta taxa de inflação do presente com grande união. É uma resposta forte ao plano de Vladimir Putin de dividir a nossa sociedade com preços altos. Mas nós não nos dividimos”, insistiu o ministro germânicos.

Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, deixa o aviso: “A Europa tem de se preparar para um “corte total” de gás russo este inverno”.

5 – GOVERNADOR ANUNCIA RETIRADA MILITAR DE SEVERODONETSK

As tropas ucranianas que defendem a importante cidade oriental de Severodonetsk “terão que ser retiradas”, confirmou o governador regional: “Permanecer em posições despedaçadas por muitos meses apenas para ficar lá não faz sentido”, disse Sergey Haidai à televisão ucraniana. “Infelizmente, teremos que remover nossos militares de Severodonetsk, porque ficar em posições comprometidas não faz sentido — o número de mortos está a crescer”. O governador acrescentou que 90% das casas em Severodonetsk foram danificadas ou destruídas. Em Luhansk, as forças armadas admitiram retirar as tropas da cidade de Lysychansk para evitar ficarem cercadas. “Não há nenhum lugar, nenhuma cidade, na região de Donetsk seguro”.

6 – AUTARCA DE MYKOLAIV RECOMENDA SAÍDA DA CIDADE

“Sugiro a todos os que quiserem continuar vivos a sair da cidade. Cerca de 230.000 pessoas continuam na cidade de Mykolayiv”, disse o presidente da câmara de Mykolaiv, cidade a sul, a pouco mais de 100 quilómetros de Odessa.

Oleksandr Sienkevych descreveu o momento da cidade como “muito mau e perigoso”, denuncinado: É bombardeada todos os dias”. O líder da cidade disse que 111 pessoas foram mortas e 502 estão feridas. Ainda assim há rotas de evacuação em direção a Odesa e Kiev. O Ministério da Defesa da Rússia disse que usou armas de alta precisão para atacar tanques de combustível do exército ucraniano e equipamentos militares perto da cidade de Mykolaiv.

7 – LAVROV E A “CONCORRÊNCIA DESONESTA” DO OCIDENTE

Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, deu uma entrevista à televisão estatal na Bielorrússia e voltou à retórica agressiva: “O Ocidente teme a concorrência honesta. Daí o desejo de anular a cultura de qualquer país que se posicione por conta própria, nacionalmente orientado. Quando finalmente os ucranianos tiverem a graça de sugerir a retomada do processo diplomático, veremos que situação surgiu no terreno. A Ucrânia tentou construir sua soberania cancelando sua própria história. O Ocidente encorajou essa abordagem e essa visão conceitual do Estado ucraniano apenas para prejudicar a Rússia.”

8 – REINO UNIDO APOIA PAÍSES MAIS AFETADOS COM CRISE ALIMENTAR E AVISA PARA “CONSEQUÊNCIAS DEVASTADORAS”

A crise dos cereais terá “consequências devastadoras” se não for resolvida “no próximo mês”, avisa o Governo britânico.

Liz Truss, chefe da diplomacia de Londres, sobre a atual crise causada pelo bloqueio russo às exportações de cereais ucranianos: terá “consequências devastadoras”.

O Reino Unido promete 400 milhões de euros em ajuda aos países afetados pela crise alimentar (151 milhões deles diretamente para o Programa Alimentar Mundial da ONU). Boris Johnson acusou Putin de tentar manter o mundo sequestrado com o bloqueio aos cereais e fertilizantes: “É absolutamente inconcebível”.

9 – GUTERRES CONFIANTE EM ACORDO PARA DESBLOQUEAR CEREAIS DA UCRÂNIA

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, está confiante em acordo para desbloquear cereais da Ucrânia. Guterres afirmou à Lusa que a reunião entre a ONU, Rússia e Ucrânia na Turquia, prevista para “as próximas semanas” e focada no transporte de cereais, será o culminar “de meses de trabalho intenso”. Esta “é, porventura, a tarefa mais importante” em que está envolvido a “curto prazo”; “Isto corresponderá ao resultado de meses de trabalho intenso e de contacto intenso e é, porventura, a tarefa mais importante em que eu, neste momento, estou envolvido a curto prazo”.

10 – MOBILIZAÇÃO EM MASSA “PRESTES A ACONTECER” NA RÚSSIA

O Kremlin estará “preocupado” que a mobilização em larga escala seja vista como uma “admissão de falhanço” no que era suposto ter sido uma operação rápida e limpa no solo ucraniano e que se tornou num lento e desgastante conflito. Moscovo está a “fazer um recrutamento muito significativo” nas regiões mais pobres da Rússia para lutarem na Ucrânia; as mesmas fontes apontam ainda que há “mais conversas” sobre a saúde de Putin e “mais especulações” sobre um futuro substituto. As presidenciais previstas para 2024 “certamente parecem mais interessantes agora do que talvez há seis meses”.