Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: tão perto da catástrofe energética

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito: tão perto da catástrofe energética
Scott Olson

Dez pontos semanais para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – PUTIN, AS SANÇÕES E OS “EFEITOS CATASTRÓFICOS” NO MERCADO GLOBAL DE ENERGIA

O Presidente da Rússia afirmou que as sanções “causam muito mais danos” aos países que as impõem. A Alemanha reativará centrais de carvão enquanto Rússia restringe fluxo de gás. O Parlamento alemão aprovou legislação de emergência para usar locais desativados para produzir eletricidade e preservar o abastecimento de gás. A medida foi descrita como “dolorosa, mas necessária” pelo ministro da Economia, Robert Habeck. Tem o apoio dos Verdes no governo de coligação, como ferramenta de gestão de crises de curto prazo. Bulgária e Grécia inauguram gasoduto para reduzir dependência de gás russo.

2 – RÚSSIA DIZ QUE AINDA SÓ USOU “UMA PEQUENA PARTE” DO POTENCIAL MILITAR

O porta-voz do Kremlin disse que as declarações do Ocidente "só aumentam o sofrimento do povo ucraniano". Peskov diz que as capacidades russas e ucranianas são incomparáveis.

Aviso para levar a sério ou pura propaganda?

3 – BLINKEN PARA LAVROV NO G20: “NÃO É O VOSSO PAÍS, NÃO SÃO OS VOSSOS CEREAIS”

O Secretário de Estado norte-americano confrontou diretamente o seu homólogo russo na reunião dos chefes da diplomacia do G20: "A Ucrânia não é o vosso país. Os cereais ucranianos não são vossos. Porque é que estão a bloquear os portos? Deviam deixar sair os cereais”

Lavrov usou narrativa fantasiosa, típica do quadro mental russo nesta guerra: “Se o Ocidente não quer que as negociações ocorram, mas deseja que a Ucrânia derrote a Rússia no campo de batalha – porque ambas as visões foram expressas – então talvez não haja nada para conversar com o Ocidente”

Sentado entre a Arábia Saudita e o México na reunião, também acusou o Ocidente de pressionar a Ucrânia a “usar as suas armas” nos combates. Lavrov saiu quando a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, começou a falar.

4 EUA ENVIAM MAIS SISTEMAS DE ROCKETS DE ALTA MOBILIDADE PARA A UCRÂNIA

Os Estados Unidos vão enviar à Ucrânia mais quatro sistemas de foguetes de artilharia de alta mobilidade (ou HIMARS). O novo pacote de ajuda militar tem um valor de 400 milhões de dólares e estes equipamentos estão a ser enviados diretamente do stock de armas norte-americano. Além dos sistemas em si, vão também ser enviadas mais munições, e três veículos militares especiais.

A Ucrânia vai assim passar a contar com 12 destes sistemas de lançamento de mísseis.

5 – RUSSOS JÁ ATINGEM BAKHMUT E SIVERSK

Bombardeamentos na região do Donbass mataram cinco pessoas que estariam internadas num hospital. Cinco pessoas morreram em resultado de bombardeamentos das tropas russas nas cidades de Bakhmut e Siversk, na região do Donbass.

6 – RÚSSIA VOLTA A ATACAR ODESSA E ILHA DA SERPENTE

A Rússia disparou rockets para a Ilha da Serpente e para Odessa. A Ilha da Serpente terá sido alvejada por dois rockets russos, com artilharia russa a atingir também a cidade de Odessa, onde os rockets que ali caíram atingiram zonas agrícolas, destruindo duas máquinas e 35 toneladas de cereais.

Os russos atacaram Toretsk, Avdiivka, Kodema, Siversk e Kramatorsk, tendo causado vítimas mortais na região de Donetsk e no Donbass. Kramatorsk e Sloviansk foram atingidas por mísseis na quinta e sexta-feira e várias pessoas morreram; o autarca de Sloviansk, também em Donetsk, confirmou igualmente que a cidade foi atingida por mísseis russos. Vadym Lyakh disse às pessoas para não saírem à rua a menos que tal seja absolutamente necessário.

7 – RUSSOS PREPARAM GRANDE OFENSIVA SOBRE SLOVIANSK

Moscovo vai tentar montar uma ofensiva sobre a cidade de Sloviansk, afirmou o líder da administração militar da cidade Vadym Liakh, o que explica os ataques que já começaram a ser sofridos; Liakh afirmou que as tropas russas se concentram atualmente ao longo do rio Siverskyi Donets, um obstáculo "natural", junto do qual as forças ucranianas conseguiram deter os avanços das forças de Moscovo.

No entanto, o responsável militar prevê que os ataques sobre a população civil vão intensificar-se. Em Sloviansk, não há abastecimento de água há mais de um mês.

8 UCRÂNIA DIZ QUE MAIS DE 70% DOS PROJÉTEIS RUSSOS FALHAM ALVOS

O general de brigada das Forças Armadas da Ucrânia, o general Oleksii Hromov, diz que a grande maioria dos projéteis e mísseis ar-terra russos — mais de 70% — ou são derrubados pela defesa aérea ucraniana ou atingem áreas que não são alvos militares.

Entretanto, o ministro da Saúde ucraniano acusou Moscovo de impedir a entrega de medicamentos nos territórios ucranianos ocupados, como a região de Kherson, e também de roubar equipamentos médicos e levá-los para a Rússia.

O ministro dos negócios estrangeiros da Ucrânia vai mandar chamar o embaixador da Turquia em Kiev para lhe pedir explicações sobre o navio russo que foi autorizado a deixar o porto turco de Karasu em direção a águas russas, apesar de estar a carregar cereais roubados à Ucrânia.

9 ECONOMIA DE GUERRA DA RÚSSIA: VAI SER IMPOSSÍVEL RECUSAR CONTRATOS COM AS FORÇAS ARMADAS DE MOSCOVO

Um novo conjunto de medidas económicas destinadas a apoiar os militares russos foi aprovado na primeira votação na câmara baixa do parlamento russo.

Se as medidas forem adotadas, as pessoas jurídicas na Rússia não poderão recusar contratos com as forças armadas russas, reformulando efetivamente a indústria russa em apoio à invasão da Ucrânia e colocando o país numa economia de guerra.

10 – UCRÂNIA QUER CONFISCAR BENS RUSSOS CONGELADOS PARA RECUPERAR O PAÍS

A Ucrânia deseja confiscar cerca de 500 mil milhões de dólares (cerca de 486 mil milhões de euros) em ativos russos congelados para financiar a recuperação do país. No entanto, este plano está a encontrar uma forte resistência da Suíça.

O Presidente suíço, Ignazio Cassis, rejeitou este plano. Alegou que a proteção dos direitos de propriedade era fundamental numa democracia liberal. Lembrou ainda que confiscar estes bens congelados e utilizá-los como financiamento seria abrir um precedente perigoso e precisaria de uma fundamentação legal específica: "Temos de prestar muita atenção aos direitos fundamentais dos cidadãos, porque agora nós podemos tomar uma decisão, que seria perfeita para a situação em que se encontra a Ucrânia, mas ao mesmo tempo criamos a possibilidade de tomar a mesma decisão noutras ocasiões e damos muito mais poder aos Estados".