A polémica entre o músico português e a Embaixada da Rússia em Portugal continua a dar (muito) que falar. Tudo começou na semana passada com um comentário da embaixada sobre o que classificou de "declarações inaceitáveis" do músico durante um concerto em Águeda.
A representação russa deu conta que "tem recebido cartas dos compatriotas russos zangados que afirmam estar chocados pelo comportamento dum dos famosos cantores portugueses Pedro Abrunhosa", que, durante o concerto "se permitiu dizer várias coisas grosseiras e inaceitáveis sobre os cidadãos da Federação da Rússia, bem como os seus mais altos dirigentes".
O "comentário" da embaixada levou a uma tomada de posição do Governo português, pedida por Pedro Abrunhosa e a agência que o representa, a Sons em Trânsito. Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) repudiou o "tom e conteúdo" do comunicado da embaixada russa e defendeu a liberdade de expressão como "inalienável".
Entretanto, o grupo parlamentar da Iniciativa Liberal propôs também que o Parlamento manifeste um "protesto veemente" contra o comunicado da embaixada, considerando que se trata de "um atentado inaceitável à liberdade de expressão".
E hoje, um leque variado de músicos e bandas manifestou o seu apoio nas redes sociais. Carolina Deslandes, Irma, Agir, Jimmy P, Karetus, Cati Freitas, Diogo Clemente, Dama, Perfume e Rita Rocha são apenas alguns dos nomes que fizeram questão de partilhar uma publicação na qual defendem que o comunicado da Embaixada da Rússia "confere uma ameaça inaceitável num país democrático como Portugal".
"Tal como o MNE, também nós, artistas, músicos, cidadãos, temos que demonstrar a nossa indignação e estar solidários com o Pedro. Não foi só o artista Pedro Abrunhosa a ser intimidado, foi toda a classe artística nacional. Muitos foram aqueles que no passado lutaram para que vivêssemos em liberdade. Jamais a nossa integridade física pode ser ameaçada por, como diz o Pedro, combatermos bombas com palavras", lê-se na publicação partilhada por vários músicos e bandas no Instagram.
Todos defendem que "nem a Europa, nem Portugal se podem tornar a barbárie". "A intimidação não nos calará, pois no dia em que o medo nos cale a voz, viveremos na escuridão", afirmam.
Antes, outros músicos demonstram publicamente apoio a Pedro Abrunhosa, como José Cid, Paulo Bragança, David Fonseca, James dos Reis ou Rita Redshoes, além do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, da apresentadora de televisão Catarina Furtado, do radialista Pedro Ribeiro e do chef Hélio Loureiro.
Afinal, o que se passou no concerto em Águeda?
Durante o concerto, Pedro Abrunhosa falou sobre a guerra na Ucrânia, antes de começar a cantar o tema "Talvez F****", no qual aborda questões como a guerra, a fome e o fascismo.
"Não podemos, nem vamos esquecer, que a Europa vive uma guerra. E a guerra mais estúpida de todas, uma guerra perfeitamente evitável, uma guerra de ódios, uma guerra em que famílias como as nossas todos os dias têm que fugir", afirmou na altura.
O músico lembrou que também "há quem não fuja, e numa ilha da Ucrânia um marinheiro respondeu a um apelo de um barco russo dizendo: 'Barco russo, go fuck yourself', que é como quem diz 'russian boat ...', que é como quem diz 'Vladimir Putin, go f*** yourself'".
Este grito hoje tem que se ouvir em Moscovo e em Kiev