Os convidados da SIC José Milhazes e Francisco Pereira Coutinho, especialista em direito internacional, comentam o encontro de Xi Jinping, Presidente da China, com Vladimir Putin, o mandato de detenção do presidente da Rússia e a mobilização de dois mil milhões de euros da União Europeia para armamento das tropas ucranianas.
Os dois líderes estiveram lado a lado para uma “conversa informal”, que será prolongada durante um jantar. Em declarações à televisão estatal russa, Vladimir Putin garantiu que aceita discutir o plano de paz para a guerra na Ucrânia, apresentado pela China.
No entanto, José Milhazes acha que este potencial acordo não beneficia a Rússia pelas suas cláusulas e, por isso, não deve ir para à frente.
“A julgar pelo que está em cima da mesa, este acordo não vai levar a lado nenhum, porque Putin escreveu hoje num artigo que a Rússia só vai para conversações se for tido em conta a realidade geopolítica atual, ou seja, Putin não vai abrir mão do que já conquistou. O plano de paz chinês significava que a Rússia teria de tirar tropas”, explica o comentador.
O facto do presidente russo assumir que irá ponderar e conversar sobre este potencial acordo de paz com a China “é uma grande treta, porque ele não podia dizer aos chineses que eles têm um acordo de paz que não interessa ao menino Jesus”, segundo Milhazes.
Para o comentador, é um engodo por parte da Rússia e o acordo não vai ser levado a sério.
Já segundo Francisco Pereira Coutinho o acordo pode ser dúbio e ter diversas interpretações, tendo em conta as diferentes realidades que cada país assume.
"O plano de paz chinês diz apenas que é para respeitar a integridade territorial, mas o chineses nunca esclareceram qual. A da Rússia ou da Ucrânia, ficamos sem saber o que eles pretendem, eles pretendem um cessar fogo e só interessa à Rússia neste momento, porque eles não conseguiram avanço nenhum", expõe o especialista.
No que diz respeito ao mandato de detenção de Putin pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), Francisco Pereira Coutinho explica de que forma é que o presidente russo pode ser preso, caso visite território conquistado na Ucrânia.
"A Rússia assinou o estatuto de Roma, mas retirou a assinatura em 2016, foi um gesto simbólico para mostrar que não tem nenhum interesse na justiça internacional. Para todos os efeitos, o TPI tem jurisdição sobre aquilo que se passa no território ucraniano desde 2014. (...) Portanto, se o presidente Vladimir Putin decidir visitar um desses estados, esses estados tem obrigação de o deter para ser julgado".
Em relação às declarações do presidente Chinês sobre a liderança de Putin, bastante elogiada, José Milhazes afirma que “não são amigos” num âmbito internacional.
"A China não tem amizades, tem interesses, e neste caso a China está a jogar com os seus interesses. Chamar Putin por amigo, tudo isso é amizade e cooperação, mas a realidade é diferente", comenta.
O especialista em direito internacional relembra que os “dois autocratas” se conhecem muito bem, tendo em conta que já se reuniram “mais de 40 vezes ao longo dos anos”. No entanto, isso não dita muito daquilo que pode resultar deste encontro com duração de três dias.
“Resta saber até onde a China está disposta a ir. Eles têm tido um estatuto neutral, mas a Rússia está em grandes dificuldades e sendo que a China tem apoiado comprando energia a russa a preço de saldos, sendo isso absolutamente essencial para a Rússia manter o esforço de guerra, mas a Rússia precisa muito da china para munições", explica.
Esta necessidade de armamento vem do apoio dado à Ucrânia pelos Estados-Membros da União Europeia, nomeadamente com a nova mobilização de dois mil milhões de euros para o fundo que vai apoiar nova produção e fornecimento de munições às tropas ucranianas.
Se a China se envolver diretamente na ajuda à Rússia com armamento para a guerra na Ucrânia, arrisca sofrer sanções, segundo os comentadores.
Segundo José Milhazes, "esta viragem da Rússia para o oriente pode sair muito cara".