O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, confirmou esta quarta-feira que vai realizar-se uma missão de paz do Vaticano sobre a guerra da Rússia na Ucrânia, afirmando-se surpreendido por ambos os países negarem ter conhecimento dela.
"A missão de paz vai acontecer. Estou surpreendido por tanto Kiev como Moscovo terem dito que não sabiam disso", declarou Parolin, falando com a imprensa à margem de um evento sobre um bispo italiano falecido, Tonino Bello, na Universidade Lumsa, em Roma.
O Papa Francisco, que também defendeu a liberdade de imprensa, cumprimentou esta quarta-feira o "ministro dos Negócios Estrangeiros" do patriarca ortodoxo de Moscovo, alimentando especulações sobre uma missão de paz na Ucrânia do Vaticano a que já se referira, mas da qual tanto Moscovo como Kiev disseram nada saber.
No final de uma audiência geral na Praça de São Pedro, o Sumo Pontífice saudou primeiro o metropolita ortodoxo Antonij de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Externas do Patriarcado de Moscovo. Francisco beijou a cruz ao peito de Antonij e trocou presentes e algumas palavras com ele.
Rússia e Ucrânia dizem desconhecer missão de paz
A agência russa TASS noticiou que o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou na terça-feira que a Rússia "não tem conhecimento" de uma missão de paz do Vaticano sobre a Ucrânia.
Tal declaração foi emitida depois de um responsável da Presidência da República ucraniana ter dito na segunda-feira à estação televisiva norte-americana CNN desconhecer qualquer missão de paz envolvendo o Vaticano.
"Se há negociações, elas estão a decorrer sem o meu conhecimento", afirmou o responsável do gabinete presidencial ucraniano.
Papa já tinha confirmado a iniciativa do Vaticano
No domingo, o Papa Francisco tinha indicado que o Vaticano estava envolvido numa missão de paz para tentar pôr fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, embora não tenham até agora sido divulgados pormenores sobre ela.
"Há uma missão em preparação agora, mas ainda não é pública. Quando for pública, falarei sobre ela", disse o Papa à imprensa durante o voo de regresso da Hungria.
Vítimas da guerra continuam a aumentar
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que esta quarta-feira entrou no seu 434.º dia, 8.709 civis mortos e 14.666 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.