As últimas informações sobre a guerra na Ucrânia dão conta de drones intercetados na região de Moscovo, nomeadamente a cerca de 30 quilómetros do Kremlin. No terreno, ambas as partes reclamam avanços. O comentador da SIC, Germano Almeida, analisa os mais recentes desenvolvimentos do conflito e as consequências da rebelião do grupo Wagner na política interna russa.
Ambas as partes reclamam avanços
Germano Almeida diz que a Ucrânia reivindica mais ganhos territoriais, nas frentes Leste e Sul, e as forças russas estão a avançar em quatro áreas da linha da frente no Leste da Ucrânia, onde decorrem “combates ferozes”.
“A Ucrânia, de facto, teve pequenos avanços territoriais, sobretudo a Leste e a Sul. As duas principais frentes são têm avanços incrementais. Estamos a falar de 37 quilómetros e meio de território recuperados nos últimos dias, num total de 158 quilómetros quadrados recuperados desde o início da ofensiva. No entanto, as forças russas também avançam em quatro frentes a Leste, onde decorrem combates ferozes”.
O comentador da SIC explica que é a própria Ucrânia que admite avanços do inimigo que a Rússia terá 180.000 soldados nas duas frentes de batalha.
Crise interna na Rússia
Mais de uma semana depois da rebelião do grupo Wagner, as consequências na Rússia ainda são visíveis, considera Germano Almeida que aponta para evidências de uma crise interna.
“Putin continua a sentir necessidade de continuar a aparecer, de continuar a mostrar que manda, e isso é um sinal de fragilidade, porque até 24 de junho de Putin não precisava desse tipo de sinais. Falou Shoigu [ministro da Defesa da Rússia] também, enalteceu a resposta leal dos militares russos contra provocações efetivas de estabilização do grupo Wagner, sabemos que a realidade não foi essa. A realidade é que o grupo Wagner avançou rapidamente e só parou por um suposto acordo que ainda não sabemos exatamente qual foi, mas não foi pela ação das forças armadas leais a Shoigu.”
O comentador da SIC acrescenta também que a Rússia cancelou um espetáculo aéreo internacional pela primeira vez em 30 anos e Instituto para o Estudo da Guerra vê Putin com um dilema: apoiar o Ministério da Defesa ou bloggers ultranacionalistas.
O mesmo instituto refere que os bloggers militares atacaram recentemente o Ministério da Defesa, depois de esta pasta ministerial ter "exagerado uma vitória tática russa" na Ponte Antonivsky, em Kherson, e acusaram o Ministério de colocar tropas insuficientes no local. Putin conta com o apoio dos blogguers, de acordo com o relatório, precisando, assim, de censurá-los ou aproximá-los, de forma a aliviar a tensão.
Primeiro teste internacional para Putin depois da rebelião
O que esperar da conversa entre os líderes russo, chinês e indiano, num diálogo que terá lugar antes do encontro virtual da Organização de Cooperação de Xangai?
O Presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro, Narendra Modi, falarão com o líder russo, que terá a oportunidade de mostrar que ainda está no controlo da situação, após a rebelião que abalou a Rússia.
"Putin vai querer mostrar que a sua autoridade não foi beliscada, a verdade é que foi, e vai falar com Xi e Modi, que têm sido fundamentais pelo menos na compensação daquilo que são as sanções que a Rússia está a sofrer. Veremos que outro tipo de consequências terá. Recordo que a mesma reunião da Organização de Cooperação de Xangai foi há um ano o primeiro momento em que Putin levou um puxão de orelhas da China e da Índia a dizer que o prolongamento da guerra está a prejudicar tudo e portanto tem de ser resolvido", explica Germano Almeida.