Em jeito de balanço da visita de Estado de dois dias na Ucrânia, o Presidente da República lembrou, esta quarta-feira, a partir de Kiev, que Portugal tem, desde 1991, a mesma posição sobre a independência da Ucrânia.
"Portugal nunca reconheceu a ocupação, por ser ilegítima, da Crimeia e de Sebastopol", começou por dizer Marcelo Rebelo de Sousa, invocando o passado.
No entanto, a declaração de independência da Ucrânia, que se assinala esta quinta-feira, também serve para pensar o futuro, mencionando as reuniões que hoje teve com Zelensky e representantes governamentais tendo em vista a cooperação política, militar, económica entre Lisboa e Kiev.
Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se hoje com o Presidente da Ucrânia e participou nas comemorações do Dia da Independência. Para surpresa de todos os convidados, o chefe de Estado português fez a intervenção toda, de pouco mais de um minuto, em ucraniano, sendo várias vezes aplaudido.
“Não aprendi a falar ucraniano. Preparei um texto alternativo. Só passei a ler em ucraniano quando o Presidente da Lituânia mudou para ucraniano. Aí, fiz das tripas coração e falei, não sei se bem ou se mal, o que podia”, afirmou Marcelo em declarações aos jornalistas.
Zelensky vem a Portugal?
Sobre uma possível visita de Zelensky a Portugal, Marcelo levantou ligeiramente o véu. Não confirmou qualquer viagem do homólogo ucraniano a território nacional, mas disse que tem esperança de o ver “mais rapidamente do que pensava em Portugal, porque se falou nisso". Só não se sabe “em que termos ocorrerá”.
Entrada na UE e NATO
Na cerimónia do Dia da Independência, Zelensky deixou um recado aos chefes de Estado que estavam presentes, entre eles Marcelo Rebelo de Sousa. “A nossa casa comum europeia sem a Ucrânia é um projeto inacabado”, referiu.
O Presidente português garantiu que a posição de Portugal se mantém a de “princípio”, é positiva, mas não ignora o trabalho de preparação necessário para a adesão da Ucrânia à União Europeia.
“A Ucrânia tem direito a integrar-se na família política europeia e a querer uma aproximação primeiro e, depois, uma inserção na NATO”, declarou.
Há uma inversão da situação? “É só olhar à volta”
Na reta final da visita a Ucrânia, o Presidente da República esteve na Catedral de Santa Sofia, em Kiev. Passeou pelos jardins e, logo depois, falou aos jornalistas numa das principais ruas da capital. Para Marcelo, esse é o sinal de que a Ucrânia está com os olhos postos na recuperação e que já são visíveis alguns sinais de inversão.
“É uma sociedade que se sente a respirar normalmente no quadro de uma guerra que sabe que existe”, disse, acrescentando que, ainda há cinco meses, era necessário o uso de colete à prova de balas neste tipo de visitas.
Sem colete e com a liberdade que o caracteriza, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu a todas as perguntas dos jornalistas, numa intervenção que durou cerca de 18 minutos. A visita de Estado “atingiu todos os objetivos pretendidos”, concluiu o chefe de Estado.