A Ucrânia pediu ao Ocidente que acelere o fornecimento de caças e de armas de longo alcance, numa altura em que Washington está a considerar o envio de mísseis ATACMS para impulsionar a contraofensiva ucraniana, foi este sábado divulgado.
Segundo a agência de notícias espanhola EFE, que cita a estação de televisão norte-americana ABC, é "provável" que a administração do Presidente Joe Biden envie ATACMS para a Ucrânia. O alcance destes mísseis, dependendo da versão, permitiria à Ucrânia atingir alvos quase quatro vezes mais longe do que com os que possui atualmente.
A EFE refere que o conselheiro do Presidente ucraniano Mikhail Podoliak afirmou que o envio de mísseis de longo alcance, incluindo o ATACMS, para a Ucrânia enviaria uma mensagem psicológica clara à Rússia de que já não existe um medo "mítico" de Moscovo e que, na prática, "aceleraria significativamente a destruição dos recursos de retaguarda da Rússia".
Segundo aquele conselheiro do Presidente Volodymyr Zelensky, tal destruição resultaria numa "rutura total da logística de transporte da Rússia", bloqueando a capacidade russa de rotação de tropas e levaria a "uma redução acentuada da prontidão de combate das forças de ocupação no primeiro e segundo escalões defensivos".
Avanços (lentos) da Ucrânia
Nas últimas semanas, explica a EFE, as forças ucranianas conseguiram penetrar em alguns pontos na região sudeste de Zaporijia, na primeira linha de defesa russa, e estão a tentar perfurar também a segunda linha de defesa.
De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), imagens geolocalizadas de sexta-feira indicam que as forças ucranianas fizeram novos avanços a noroeste da aldeia ocupada de Verbove, no oeste de Zaporijia, mas também perto da aldeia vizinha libertada de Robotyne, de onde estão a avançar para sul.
Apesar deste novo impulso, Zelensky já reconheceu que "a guerra está a abrandar".
"Todos os processos estão a tornar-se mais complicados e mais lentos: desde as sanções até ao fornecimento de armas", disse no final desta semana o chefe de Estado ucraniano.
Na mesma ocasião, o chefe de Estado ucraniano alertou ainda para a importância dos meios aéreos no conflito.
"Se não estivermos no céu e a Rússia estiver, eles param a nossa contraofensiva", sublinhou na altura Zelensky, que se reuniu hoje em Kiev com o ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Yoshimasa Hayashi, com quem concordou em iniciar negociações sobre garantias de segurança bilaterais.
Há meses que a Ucrânia pede aos Estados Unidos o envio de mísseis táticos ATACMS de longo alcance, mas até agora os norte-americanos têm-se mostrado relutantes.
O Reino Unido enviou mísseis Storm Shadow, com capacidade para mais de 250 quilómetros, e a França prometeu, em julho, enviar também projéteis de longo alcance.
Zelensky está a “preparar o inverno”
À medida que o outono se aproxima, a Ucrânia vai-se colocando em alerta para o caso da Rússia voltar a bombardear intensamente infraestruturas críticas do país, especialmente de energia, como fez em 2022.
Para "preparar o inverno", Zelensky organizou hoje uma reunião de alto nível com o primeiro-ministro ucraniano, o ministro da Energia, o Estado-Maior e as empresas de energia Ukrenergo, Ukrhydroenergo e Naftogaz.
Segundo Kiev, o objetivo era discutir a "implementação do plano para proteger a energia e as infraestruturas críticas dos ataques russos vindos do céu", entre outras questões.
"Estamos conscientes de que o mal russo também se está a preparar para o inverno, preparando-se para criar sofrimento", disse Zelensky.
Recentemente, o porta-voz dos serviços secretos militares ucranianos (GUR), Vadim Skibitski, afirmou que as forças russas estão a efetuar um reconhecimento das infraestruturas ucranianas e que poderão iniciar uma série de ataques maciços com mísseis e 'drones' (aparelhos aéreos não tripulados) no final de setembro ou em outubro.
Kiev suspeita, no entanto, que a Rússia não tenha sido capaz de reabastecer as reservas de mísseis para sustentar uma campanha à escala dos ataques do inverno passado.