Guerra Rússia-Ucrânia

Rússia ausente da Cimeira da Paz na Ucrânia "não é impeditivo para que haja algo construtivo"

O comentador da SIC Germano Almeida esclarece o que vai estar em causa na Cimeira para a Paz na Ucrânia, a decorrer este fim de semana na Suíça.

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Começa este sábado na Suíça a Cimeira para a Paz na Ucrânia que vai contar com a presença de representantes de cerca de 90 países. Quem estará, ou não, presente, o que será discutido e o que poderá sair do encontro, são algumas das questões a que Germano Almeida responde.

O que leva a Suíça, um país tradicionalmente neutro, a avançar com esta cimeira de paz?

"Ser neutro não significa ser indiferente a um posicionamento", é uma expressão de um comunicado do Ministério dos Estrangeiros suíço, no sentido de contribuir para a resolver a maior guerra em espaço europeu desde a Segunda Guerra Mundial, refere Germano Almeida.

Embora a Suíça seja um país neutro, é um país que está na Europa e "tem uma capacidade de chegar a Moscovo maior do que neste momento os países da UE e as autoridades suíças mantém um contato permanente com Moscovo".

Suíça já admitiu que não haverá um Tratado no final desta conferência. O que significa e o que será discutido?

"Significa que, não estando a Rússia, naturalmente que não será aqui que se vai resolver a guerra".

Nesta cimeira vai ser tratada a fórmula da paz apresentada pelo Presidente Zelensky, logo a seguir à invasão russa da Ucrânia, uma fórmula com 10 pontos. Há três que não vão ser tratados: "a retirada das tropas russas, definir uma arquitetura de segurança que impeça a Rússia de voltar a fazer uma invasão da Ucrânia e a paragem da guerra".

"Há três pontos que vão estar em discussão: segurança alimentar, segurança nuclear e o regresso dos prisioneiros de guerra e das crianças ucranianas que foram levadas para a Rússia".

Quem será que o porta-voz da União Europeia?

A União Europeia vai estar em peso numa altura em que o apoio demonstrado tem sido reforçado e também depois de ter sido dada autorização de utilização de armamento para atacar território russo, mas na fronteira.

"Macron tem uma prevalência a nível internacional, que não perde em função do que é o seu problema interno. É de facto um líder importante, assumiu-se como o principal pivô da ajuda à Ucrânia e da travagem da Rússia nos últimos meses, sobretudo quando lançou a questão de nada poder ser excluído porque a Rússia não pode ganhar a guerra, mesmo a questão de eventualmente envio de tropas".

Além da presença de todos os países europeus, também estarão instituições como a NATO ou a União Europeia.

Por que motivo há países que não são representados pelo Chefe de Estado ou Chefe de Governo?

No caso da Hungria, não será representada nem pelo primeiro-ministro nem pela Presidente, vai estar com o chefe da diplomacia. Há também o caso do Brasil, da Turquia, da Índia, do Paquistão e dos Estados Unidos.

"A Índia é claramente a grande vitória de Zelensky. O primeiro-ministro Modi esteve ontem no G7 em Itália e é normal que não vá estar na Cimeira da Paz, mas o facto da Índia estar presente, acho que é muito significativo".

No caso do Brasil vai estar em embaixadora a brasileira na Suíça, "portanto, uma representação de facto muito baixa, mas é preciso dizer que Brasil tem sido, com o Presidente Lula, um aliado do Presidente Putin".

Paquistão e Turquia, a par da Arábia Saudita, são as principais dúvidas.

Por que motivo a China não vai estar presente?

Zelensky falou esta quinta-feira com o Presidente Xi Jinping, que lhe garantiu que a China não vende armas à Rússia. mas nada lhe disse relativamente à Cimeira da Paz.

"Mas há um ponto crucial para percebermos a China: (...) tem estado desde o início muito preocupada com a questão nuclear e tem sido uma espécie de seguro para que Putin não use a questão das armas nucleares". Mesmo não estando presente na cimeira "não é impossível que a China até possa validar e acompanhar" a declaração que saia da cimeira.

A questão da Rússia

Um dos pontos que está a indicado no site oficial desta cimeira diz que "um dos objetivos é encontrar um processo, uma forma de envolver ambas as partes num futuro processo de paz". A Rússia disse que, mesmo que tivesse sido convidada, não estaria presente.

"Mais uma vez é importante que seja na Suíça, porque a Suíça faz questão de não cortar comunicação com Moscovo, ao contrário do que os países europeus fizeram. E também porque a Suíça. Olha para esta para esta cimeira como um ponto de partida para mais tarde se avançar para outras coisas".
"O facto de a Rússia não estar não é impeditivo para que haja algo construtivo".

África muito pouco representada

Tanto em relação à África como em relação à América Latina e ao Médio Oriente, Zelensky considera que há uma série de países do sul global que, mesmo estando, do ponto de vista comercial e de relações, mais próximas da Rússia do que a Ucrânia, olham para este tipo de cimeira com abertura. "Neste momento, as indicações é que haverá cerca de 80 países presentes. Pode haver uma surpresa e esse número ser um pouco maior".

"Zelensky acha o seguinte: quem disser que sim à cimeira, olha para uma paz duradoura e justa e está do lado de condenar a agressão russa. Quem por omissão não estiver, não considera assim tão grave a agressão russa".

Por que motivo Biden não vai estar presente?

Os Estados Unidos vão estar representados pela vice-Presidente Kamala Harris, mas o facto de o Presidente não estar presente não retira importância a esta cimeira nem significa menor apoio à Ucrânia.

"Zelensky e Biden estiveram lado a lado e assinaram um grande acordo de segurança bilateral a 10 anos em Itália. O facto de ter estado no G7 e o facto de, daqui a poucas semanas, haver a Cimeira da NATO em Washington, que o Presidente vai receber, acaba por minimizar essa questão".