As notas da banda sonora do videojogo ucraniano Stalker são a mais recente melodia que Timur aprendeu a tocar. Com 13 anos, já enfrentou dois inícios de guerra. A primeira vez foi em 2014, quando a cidade onde morava com a mãe foi ocupada. E a segunda em Druzhkivka, há três anos. Desta vez, a família decidiu ficar.
“Druzhkivka é muito bonita. Temos muitas lojas que estão próximas das casas. Aqui também há muitos professores e explicadores, se alguém tem problemas com o ensino pode ligar-lhes e marcar uma sessão”, conta o jovem Timur.
Há poucas crianças na cidade e o ensino é sobretudo à distância. O recolher obrigatório começa às nove da noite e termina às cinco da manhã. A destruição é visível, mas quem ficou, mantém o moral elevado.
“A vida continua e as crianças têm que continuar a nascer, e durante as guerras as pessoas amavam e davam a luz. Todas as guerras, mais tarde ou mais cedo, terminam. E nós, em primeiro lugar, temos que ser uma nação forte”, diz Anastasya, médica e habitante de Druzhkivka.
“Uma mulher grávida é uma mulher louca”
No dia 24 de fevereiro de 2022, Anastasya descobriu que tinha começado uma invasão em larga escala e que estava grávida com o segundo filho. Quando a poeira assentou, a médica arregaçou as mangas e começou a abrir novos negócios.
“Uma mulher grávida é uma mulher louca. Não sei, acho que as mulheres ucranianas são destemidas e quando se irrita uma mulher ela é capaz de tudo.”
Anastasya e o marido abriram 10 barbearias e um café.
“Tomei a decisão que enquanto houver como, nós vamos trabalhar. Vamos fazer coisas boas para a nossa comunidade e viver com isso. Se tiver que ser, então nós vamos sair daqui de cabeça erguida. Mas, direi o seguinte, eu não considero nenhum plano B. Eu espero, vou esperar até ao fim. (…) Tenho muita esperança que a minha região de Donetsk sobreviva.”
Soldados são a maior clientela
O casal emprega 20 pessoas, na maioria deslocados de cidades ocupadas ou destruídas. Os clientes são sobretudo soldados.
“Eles ficam satisfeitos por lhes terem cortado bem o cabelo, ficam satisfeitos pelo serviço em si, e também pelo facto deles terem podido falar sobre temas que não têm a ver com a guerra. Isso também é muito importante para eles. Para desligarem um pouco, nem que seja esta meia hora, a pessoa fica logo emocionalmente melhor”, relata Alyona, cabeleireira.
Entre cortes de cabelo e conversas banais, o som das explosões continua a fazer parte do dia a dia. Mas Anastasya acredita que “estamos à beira de mudanças”.
Esperança sobre a qual constroem-se planos de abrir mais negócios, para continuar a dar vida à cidade a 15 quilómetros da zona de combates. Anastasya quer também abrir um museu, para receber visitantes que queiram conhecer a história do Donbas.