O enviado especial dos Estados Unidos para a Ucrânia, Keith Kellogg, chegou esta manhã a Kiev para uma visita de três dias em que irá discutir com Zelensky possíveis caminhos para a paz e assim pôr fim à guerra com a Rússia. O especialista em segurança e defesa, Francisco Cudell, refere a incerteza sobre a mensagem que Kellogg leva à Ucrânia e afirma que a Europa "está neste momento numa crise profundíssima", com os líderes a revelarem posições divergentes sobre o futuro da Ucrânia.
A estratégia dos Estados Unidos permanece uma incerteza, segundo o especialista. Keith Kellogg é um dos poucos que afirmou publicamente que a Rússia teria que conceder territórios à Ucrânia, proposta a que a Rússia já rejeitou: "Lavrov já disse que não. Os quatro oblasts são russos, o que significa que a Ucrânia ainda terá que ceder mais território, que ainda continua sob seu controlo, para que os quatro oblasts sejam na totalidade russos".
"Vai ser preciso ter em atenção qual será mesmo a mensagem de Keith Kellogg. Nós temos visto que os americanos têm tido uma dualidade de critérios consoante o seu interlocutor. Muito honestamente, acho que é mais uma questão de esperar para ver, podemos ter aqui alguma surpresa. Se porventura fomos todos surpreendidos em Munique, com as declarações de Zelensky, onde se sentiu insultado com uma tentativa de usurpação dos recursos minerais por parte dos americanos, vamos ver agora se Keith Kellogg traz um discurso inverso".
Segundo Cudell, os Estados Unidos estão a intervir cada vez mais no futuro político da Ucrânia.
"Já estamos a entrar numa ingerência dos Estados Unidos na governação da Ucrânia, porque na prática a Ucrânia já devia ter tido eleições o ano passado, mas como está em guerra, a própria Constituição não permite que tenha eleições, porque era inviável gerir um processo eleitoral durante um período de guerra."
Falta de consenso entre os líderes europeus
Francisco Cudell diz que "a Europa está neste momento numa crise profundíssima, onde se verifica, como aconteceu por exemplo na reunião de Paris, que os líderes saem e não chegam a qualquer consenso"
Nem todos os países da União Europeia estiveram representados no encontro da capital francesa.
"A Europa a 27 esteve representada apenas por meia dúzia. E mesmo assim houve opiniões muito divergentes. Se, por exemplo, o primeiro-ministro britânico diz que a Inglaterra está disponível para colocar tropas no terreno se houver um apoio dos Estados Unidos, Olaf Scholz ou Pedro Sánchez já são completamente contra ou até bastante céticos em relação ao envio de tropas para a Ucrânia"
A falta de convergência entre os Estados-membros pode, no entanto, ser um ponto de viragem.
"Nós podemos estar perante o grande momento da Europa finalmente abrir os olhos e convergir numa única direção".