Guerra Rússia-Ucrânia

Correspondente SIC

"A minha mãe chorava imenso": portuguesa saiu de Santa Maria da Feira para salvar vidas na Ucrânia

Anita foi para a Ucrânia no início da invasão russa para ajudar, durante um mês, a população que fugia da guerra. Acabou por ficar três anos. Hoje tem contrato com o exército ucraniano e não pensa em voltar para Portugal. "Se a guerra acabasse amanhã, eu ficaria cá".

Anita
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“Quando a guerra começou, na altura era 24 horas sob 24 horas por dia a passar notícias sobre a Ucrânia”, lembra Anita, que via as imagens das “avozinhas” desesperadas e gostava de lhes dar um abraço. Aos 22 anos, largou a vida em Portugal, agarrou na mochila e partiu sozinha para um país em guerra.

“Não conhecia ninguém, absolutamente ninguém. Não tinha organização nenhuma para vir, não tinha falado com nenhuns voluntários, não sabia nada”, conta Anita, que foi, inicialmente, para ficar apenas um mês.

A portuguesa de Santa Maria da Feira participou em missões humanitárias no nordeste e no sul e depois conheceu o leste, a região de Donetsk, onde os combates nunca param.

"A minha mãe no início chorava imenso. Mas depois, passado algum tempo, ela percebeu que eu estava feliz."

Assinou contrato com o exército e salva vida de soldados

Anita conheceu cidades que hoje estão reduzidas a escombros. Em missões de evacuação, arriscou a vida para resgatar civis. Agora, além de ajudar civis, salva a vida de soldados. Assinou um contrato com o exército ucraniano e tornou-se oficialmente médica de combate.

“Eu tento não ficar com imagens, ou tentar lembrar-me da cara dos militares, não sei se é uma coisa do meu cérebro, mas não há momentos que eu retenha. Para mim é mais um dia de trabalho”.

Não sente medo da guerra, só do “raspanete” da mãe

“Eu não sinto medo do que é que está a acontecer à minha volta, eu sinto mais medo que a minha mãe vai me dar um raspanete desgraçado se eu não lhe ligar à noite”, conta Anita.

Na Ucrânia, tem a companhia de uma cadela, que faz parte da sua “nova” família.

“Está sempre comigo, faz-me companhia. Dorme comigo. É uma coisa boa de ter à minha volta.”

“Se a guerra acabasse amanhã, eu ficaria cá”.

“Há tanta coisa depois para fazer (…) projetos com crianças, para adapta-las outra vez. Eu gostava de fazer parte de alguma dessas coisas. Para já não tenho planos de ir para Portugal. Nas férias, para comer bacalhau no Natal, uma coisa assim do género”.