Guerra Rússia-Ucrânia

Análise

"Zelensky está a ser um osso duro de roer na mesa das negociações"

O Secretário-Geral da SEDES Europa, Vítor Gabriel Oliveira, refere que os aliados da Ucrânia estão hoje reunidos em Paris sobretudo para falar do papel que cada um pode ter num cessar-fogo e do apoio que pode dar à Ucrânia.

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Paris é hoje palco de mais uma cimeira de segurança para discutir a guerra na Ucrânia. Vai juntar líderes e representantes de mais de 20 países, incluindo o primeiro-ministro português, Luís Montenegro. Na cimeira vão estar representantes de países da União Europeia e da NATO e o presidente do Conselho Europeu, António Costa. Reino Unido, Canadá, Noruega e Turquia também vão estar presentes, Estados Unidos estarão ausentes.

Esta cimeira acontece na sequência das reuniões realizadas em Paris e Londres nas últimas semanas para dar garantias de segurança à Ucrânia depois do acordo de cessar-fogo parcial alcançado entre a Rússia e a Ucrânia nas negociações na Arábia Saudita.

Para Vítor Gabriel Oliveira, não parece possível que a Rússia aceite, algumas condições como por exemplo uma espécie de tropas de manutenção de paz.

"Na reunião de Paris, acredito que a operacionalização do novo pacote de apoio da União Europeia será um dos temas principais e será essa operacionalização que estará em cima da mesa e como é que essa operacionalização será feita."

Os Estados Unidos não estão presentes neste encontro, mas Vítor Gabriel Oliveira salienta que, apesar de tudo, "os Estados Unidos ainda continuam a ser o nosso maior aliado".

"A União Europeia não se pode afastar dos Estados Unidos. Aliás, Mark Rutte, quando esteve há cerca de duas semanas nos Estados Unidos, disse isso mesmo, que a União Europeia iria gastar muito mais dinheiro em armamento neste momento, que era aquilo que os Estados Unidos até queriam. Portanto, nós estamos a fazer o caminho para não nos afastarmos na totalidade dos Estados Unidos"

O Secretário-Geral da SEDES Europa chama a atenção para a inclusão da Turquia nesta cimeira: "a União Europeia está a alargar o espectro, a Turquia é um dos países que tem mais tropas dentro da NATO, portanto a União Europeia está a ver de forma diferente a maneira como se irá proteger, a maneira como irá operacionalizar o rearme (...) e a maneira como continua a aproximação da Ucrânia a um futuro processo de entrada dentro da União Europeia que a Rússia não excluiu".

Têm sido trocadas muitas condições, não só entre Ucrânia e Rússia, mas também entre Rússia e União Europeia. Putin quer ver as sanções financeiras levantadas para aceitar o que tem sido acordado na Arábia Saudita.

"Parece-me que algumas sanções americanas poderão ser levantadas, mas parece-me complicado até realmente estar operacionalizado o processo de paz na Ucrânia, que as sanções da parte da União Europeia sejam levantadas ou da parte do Reino Unido".

O Reino Unido é um dos grandes países que congelou mais ativos da Rússia, portanto será em parte no Reino Unido, embora a União Europeia também, mas o Reino Unido terá uma palavra importante a dizer, mas não acredito que isso seja feito antes da União Europeia ver com os seus próprios olhos que irão descongelar os ativos.

Os Estados Unidos apontaram a Páscoa como uma data para que este acordo parcial ficasse efetivamente fechado, um objetivo que Secretário-Geral da SEDES Europa considera ambicioso.

"Provavelmente o acordo não foi ainda atingido porque, e se me permite usar esta expressão um pouco forte, ainda não conseguiram vergar a Ucrânia ao ponto em que queriam, e Zelensky está a ser um osso duro de roer na mesa das negociações".

Sempre que há uma uma negociação em que a União Europeia não intervém, os líderes europeus, nomeadamente Macron, têm o cuidado de estar logo nos dias seguintes com Zelensky.

"Não é assim tão tácito que o Zelensky aceite tudo aquilo que os Estados Unidos querem que ele aceite tão rapidamente, Zelensky está a fazer-se difícil, e bem, para conseguir manter aquilo que acredita que é o melhor para o povo ucraniano e é isso que estará aqui a dificultar as negociações de imposição que os Estados Unidos querem à mesa das negociações com a Rússia e com a Ucrânia".