O Presidente russo Vladimir Putin sugeriu que a Ucrânia fosse colocada sob uma administração temporária sob a égide da ONU de forma a organizar uma eleição presidencial “democrática” antes de quaisquer negociações sobre um acordo de paz.
“Poderíamos, claro, discutir com os Estados Unidos, mesmo com os países europeus, e claro, com os nossos parceiros e amigos, sob a égide da ONU, a possibilidade de estabelecer uma administração de transição na Ucrânia”, declarou Vladimir Putin durante um encontro com marinheiros russos, quinta-feira à noite, em Murmansk.
"Para quê? Para organizar uma eleição presidencial democrática que resulte na chegada ao poder de um governo competente que tenha a confiança do povo, para depois iniciar negociações com essas autoridades sobre um acordo de paz e assinar documentos legítimos", explicou Putin.
A Rússia tem afirmado repetidamente que não considera Volodymyr Zelensky, cujo mandato expirou oficialmente em maio de 2024, como o presidente legítimo da Ucrânia.
“No âmbito das atividades de manutenção da paz da ONU, já recorremos várias vezes à chamada administração de transição”, recordou o líder do Kremlin, citando em particular o caso de Timor-Leste em 1999.
Cimeira de segurança em Paris reafirma apoio a Kiev
Esta declaração surge no momento em que os aliados europeus da Ucrânia se reuniram no dia anterior em Paris para discutir garantias de segurança para Kiev. O Reino Unido e a França apresentaram planos para o futuro envio de uma "força de segurança" para o país que enfrenta um ataque russo há mais de três anos.
Uma missão franco-britânica deverá, por isso, ir “nos próximos dias à Ucrânia”, segundo o Presidente francês Emmanuel Macron, para preparar em particular “qual será o formato do exército ucraniano”, que continua a ser, segundo ele, “a principal garantia de segurança” do país.
EUA dizem que ucranianos decidem destino do país
Em reação, os Estados Unidos deixam claro que o destino da Ucrânia depende apenas dos ucranianos.
Questionado sobre a possibilidade de uma administração temporária, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca garante que o governo do país é determinado pela constituição e pelo povo ucraniano.
"Iniciativa estratégica"
Putin garantiu ainda que as forças russas estão fortes em toda a linha da frente na Ucrânia e disse que “o próprio povo ucraniano deveria compreender o que está a acontecer”.
"Em toda a linha da frente, as nossas forças têm a iniciativa estratégica (...). Há razões para acreditar que vamos conseguir. Estamos a avançar gradualmente, talvez não tão rapidamente como gostaríamos, mas com insistência e certeza, para atingir todos os objetivos anunciados” no início da ofensiva na Ucrânia, acrescentou Putin.
O exército russo tem anunciado quase diariamente a captura de novas localidades na Ucrânia.
Guerra com mais de 3 anos
A Rússia invadiu o seu vizinho ucraniano em 2022 afirmando querer a “desmilitarização” e a “desnazificação” da Ucrânia e exigindo que renunciasse às suas aspirações de adesão à NATO, considerada uma ameaça por Moscovo. Uma condição rejeitada por Kiev que a considera "inaceitável".
O Presidente dos EUA, Donald Trump, tem defendido o fim do conflito na Ucrânia o mais rapidamente possível desde que assumiu o poder em janeiro. Quer a todo o custo obter um cessar-fogo na Ucrânia tendo pressionado Kiev a um cessar-fogo temporário de 30 dias.
Na terça-feira, após conversações na Arábia Saudita através de Washington, foi anunciado um acordo que conduzirá, sob condições, a uma trégua no Mar Negro e a uma moratória sobre ataques contra instalações energéticas.
Mas Moscovo apelou ao levantamento das restrições às exportações agrícolas russas, uma ideia apoiada pela Casa Branca.
Von der Leyen e Costa reafirmam apoio a Kiev e rejeitam retirar sanções à Rússia
Durante a cimeira de Paris, os cerca de 30 países europeus aliados de Kiev pronunciaram-se unanimemente contra qualquer levantamento das sanções impostas à Rússia.
“Há um consenso de que agora não é o momento para levantar as sanções. Pelo contrário, discutimos como fortalecê-los”, disse o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
Seria “um erro grave” removê-las, acrescentou o chanceler alemão Olaf Scholz.