Em Kalynove há um parque infantil, mas sem crianças por perto, a apenas 15 km da fronteira russa, muitas famílias deixaram a aldeia. As que ficaram e têm filhos pequenos já não os entretêm com baloiços. Andrii tem oito anos e brinca à realidade que conhece.
“Antes da guerra começar, eles brincavam com carrinhos. Durante a guerra, só brincam com armas. Revólveres, espingardas de assalto, lança-granadas, metralhadoras. É isso. As pessoas são afetadas pela guerra”, explica Varvara Tupkalenko, mãe.
Não são só os telhados danificados nas explosões ou os destroços de mísseis e as marcas de balas à volta. A vida, está toda condicionada pela guerra. A guerra marca o ambiente à volta, mas também o coração e a cabeça de Andrii e do irmão mais novo.
Os dois irmãos assumem agora a brincar o que imaginavam ser parte das tarefas do pai, na guerra. Andrii e o irmão nunca foram à escola. Primeiro a pandemia e depois a guerra tiveram sempre aulas online.
Kateryna holtsberg é psicóloga familiar em Kiev e tem acompanhado os efeitos da guerra na saúde mental das crianças.
"Muitas vezes, recebo queixas sobre a indiferença das crianças. Ou seja, não se apercebem quando outra pessoa está a sentir dor. Se as educarmos, elas continuarão a ser indiferentes na idade adulta. Serão indiferentes tanto para os estranhos como para os seus entes queridos. É pouco provável que esses adultos indiferentes consigam educar crianças com uma confiança básica no mundo", explica a psicóloga.
E nos mecanismos de defesa emocional, Andrii e o irmão aprenderam a odiar os russos. Dizem que um dia irão ao Donbass. Vingar o pai é, em tão tenra idade, objetivo de vida.