Incêndios em Portugal

Entrevista SIC Notícias

"Neste momento, é tentar gerir o melhor possível para evitar o máximo de danos às populações"

Jorge Silva, da Associação Portuguesa de Técnicos de Proteção Civil, diz que nada se aprendeu com os incêndios de 2017. O climatologista Mário Mário Marques aponta características das zonas afetadas que contribuem para o agravamento da situação.

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Mais de 5 mil bombeiros combatem pelo menos 110 incêndios, em especial na zona Norte e Centro do país. O distrito de Aveiro é o que concentra mais operacionais. O climatologista Mário Mário Marques aponta características das zonas afetadas que contribuem para o agravamento da situação. Também Jorge Silva, da Associação Portuguesa de Técnicos de Proteção Civil (AsproCivil), analisa a situação dos incêndios e afirma: "Não há meios suficientes para a tanta ocorrência em simultâneo".

"Há meios suficientes para debelar algumas ocorrências, mas estamos a chegar a um ponto em que tem que se dividir os meios para conseguir fazer frente a todas as frentes ativas e, neste momento, é tentar gerir o melhor possível para evitar o máximo de danos às populações. É essa a estratégia da Proteção Civil que vai ter se ser seguida durante o dia de hoje", explica Jorge Silva.

O vice-presidente da AsproCivil considera que "não aprendemos com os grandes incêndios de 2017".

“Nós em 2017 tivemos grandes incêndios, depois, a partir daí, houve uma legislação toda penalizadora para os proprietários em caso de não limpeza dos seus terrenos, mas aqui a grande falta de aprendizagem foi na prevenção e no tratamento. Como eu já disse várias vezes, os incêndios combatem-se a montante com a prevenção, a chave está aqui para resolução do problema dos incêndios em Portugal. Chama-se a rentabilidade da floresta”, defende Jorge Silva.

Para o vice-presidente da ASPROCIVIL, o problema só será resolvido no dia em que conseguir ter rentabilidade da floresta, quando o substrato florestal começar a ser rentável.

"Temos que começar a pensar no futuro, perdemos aqui anos de políticas que podiam ser para nós, no sentido de promover uma verdadeira associação de pequenos proprietários através de cooperativas, através do que quer que seja, para podermos combater os incêndios. Não optámos por fazer legislação, penalizadora para os proprietários, só de de coimas para quem não conseguiu limpar," realça

O especialista lembra que os pomares, que geralmente "não são afetados, em grande parte dos incêndios, porque são rentáveis, porque têm rentabilidade e são cuidados".

"Ventos cruzados de diferentes quadrantes dificultam ação dos bombeiros"

O climatologista Mário Marques detalha as característica das zonas mais afetadas que favorecem a propagação dos fogos:

"O distrito de Aveiro e mesmo o distrito de Viseu, é uma região aonde existe um abandono muito geral, um desordenamento do território e obviamente que isso traz dificuldades acrescidas às condições atmosféricas na supressão de fogo. Além disso, há a região também de Gondomar, onde existe um grande incêndio que está a encobrir toda a área metropolitana do Porto, com uma densa nuvem. Também é uma área complicada, uma vez que, portanto, são extensas áreas da eucaliptal".

Mário Marques explica que o vento é um fator de grande preocupação: "A velocidade de progressão é muito grande e as projeções podem ir até 2 quilómetros ou ou mais".

Além do vento forte, as previsões meteorológicas para esta terça-feira são de temperaturas altas, humidade muito baixa.

"As condições meteorológicas vão ser muito semelhantes às do dia de ontem, apesar de uma ligeira descida da temperatura muito ténue de 1 ou 2 graus na região mais no interior do distrito de Vila Real e mesmo de Viseu, contudo a humidade relativa será extremamente baixa, sobretudo na parte da tarde".

"Poderá haver aí uma janela de abertura durante a parte da tarde que o vento irá diminuir a intensidade (...) Contudo em volta desses incêndios complexos e de grande dimensão, todas as parcelas da área envolvente serão aquecidas pelo pelo fogo, irão ascender na atmosfera e depois arrefecendo nas diferentes camadas, poderão obviamente perturbar a trajetória do incêndio, uma vez que conventos descendentes lineares, horizontais e divergentes irão espalhar-se pela superfície, em redor do incêndio. São ventos cruzados de diferentes quadrantes e que dificultam a ação dos dos bombeiros nesse sentido", explica Mário Marques.