Incêndios em Portugal

Os gritos, o medo, a aflição: a noite mais longa do ano

Foi prometido ao país que nunca mais, que, depois de Pedrogão, a tragédia dos incêndios não se repetiria com tal dimensão.Mas, na semana passada, parte do país voltou a sobressaltar-se. Pessoas morreram, casas e vidas foram destruídas, regiões inteiras são agora uma ferida a céu aberto.

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A noite foi a mais longa do ano, na vila de Melres, no concelho de Gondomar. Na madrugada do dia 18 de setembro, um incêndio que ali tinha chegado umas horas antes, ao fim da tarde do dia 17, já não se alimentava apenas da floresta, mas das casas de alguns dos habitantes da vila onde a noite foi passada em claro. 

Fosse na guarda dos bens, na ajuda aos bombeiros ou simplesmente para verem, impotentes, as chamas a avançar, foram poucos os que descansaram antes do amanhecer.  

Para os outros, os que perderam tudo, o descanso não virá tão cedo. 

O cenário repetia-se na freguesia de Talhadas, em Sever do Vouga. A pouco mais de 80 quilómetros, a noite estava igual à de Melres.O mesmo tom alaranjado do céu, o mesmo ar irrespirável, as mesmas fagulhas que voavam como pássaros de fogo, projetando o caos às florestas que haviam de ser consumidas de seguida.  

Ouviam-se os mesmos gritos de aflição, a mesma confusão. Nos incêndios florestais a geografia parece ser a única variável. E o medo, o grande agregador.