A associação ambientalista WWF Portugal alertou esta quarta-feira para a urgência de transformar a paisagem para quebrar o ciclo dos grandes incêndios no país e propôs medidas centradas na natureza e fixação da população rural.
Num comunicado a propósito dos incêndios deste ano, que consumiram mais de 250 mil hectares até final de agosto, a WWF Portugal apresenta três medidas que apelida de prioritárias e que devem ser implementadas até maio de 2026, para evitar repetir o "cenário devastador" no próximo verão.
A associação propõe a abertura de um aviso do Fundo Ambiental para projetos e ações que promovam os serviços ecossistémicos fornecidos pelas florestas. Como o restauro ecológico e apoio à regeneração natural de bosques e áreas ripícolas, e o uso do pastoreio extensivo na gestão da vegetação espontânea, para reduzir o risco de incêndio e simultaneamente conservar habitats e espécies.
Deva ser também aberto um aviso do Fundo Ambiental para projetos e ações que promovam os sistemas agrossilvopastoris e de agrofloresta, "para reduzir o risco e impacto dos incêndios, fixar a população rural e a presença humana no território".
A WWF Portugal quer ainda que o acesso aos fundos seja menos burocratizado. E diz que as medidas já foram sugeridas várias vezes em anos anteriores, e "continuam a ser postas de parte, ano após ano".
Citando dados oficiais a WWF refere que os 254 mil hectares ardidos até final de agosto fazem de 2025 um dos três piores anos de sempre em termos de área ardida, especialmente nos povoamentos florestais (118.127 hectares).
E lamenta também os incêndios que afetaram várias áreas protegidas, como o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Parque Natural do Alvão, o Parque Natural da Serra da Estrela e, mais recentemente, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
"Ao mesmo tempo que lamentamos profundamente todas as perdas resultantes dos incêndios, principalmente as de vidas humanas, não podemos deixar de lamentar também a inércia dos sucessivos governos na resolução deste problema. Ano após ano, o Governo continua sem fazer o que é necessário para prevenir os incêndios do verão seguinte", diz citada no comunicado a diretora executiva da WWF Portugal, Ângela Morgado.
Dando como exemplo medidas lançadas pelo Governo após os incêndios deste ano para a recuperação da área ardida, com "pouco foco" na prevenção, Ângela Morgado frisa que o tema não é da responsabilidade de um governo específico mas sim "um problema estrutural", cuja resolução "tem de sobreviver às consecutivas legislaturas e opiniões".
No documento, a associação aponta como principais fatores que agravam o risco de incêndio a baixa rentabilidade da floresta, o abandono do mundo rural, a fragmentação da propriedade e a ausência de políticas públicas coordenadas.
E reafirma a necessidade de quebrar os ciclos dos grandes incêndios, alterando a paisagem, reduzindo a área florestal de produção não gerida e convertê-la em sistemas agrossilvopastoris ou agrofloresta, com reintrodução de pastoreio e valorização dos produtos que daí derivam