Jornada Mundial da Juventude

Ele e uma guitarra, ajoelhado em frente ao altar: a voz que silenciou três milhões de jovens

Eu, que já estive em três Jornadas Mundiais da Juventude, surpreendo-me sempre com as multidões de jovens à espera de ver o Papa, de ouvir as suas palavras. O espírito que se sente nas ruas é inexplicável. E há momentos que ficam para a vida, como aquela madrugada em Copacabana.

2013: Copacabana, Brasil
2013: Copacabana, Brasil

Jovens de todo o mundo encontram-se como irmãos numa cidade que estão a descobrir juntos e que se torna sua. "Esta é a juventude do Papa" é o grito que ecoam pela cidade.

Madrid, 2011: o espírito nas ruas

Foi em Madrid, em 2011, que o ouvi pela primeira vez. Fui à descoberta, sem saber o que esperar. Confesso que não li nada sobre o evento nem me informei muito. Desafiaram-me a ir. Disseram-me que ia com amigos, uma semana para Madrid, que ia ver o Papa. Era tudo o que sabia e tudo o que foi necessário para dizer que sim.

Aquela semana foi uma descoberta diária. Do que é a Jornada, de mim própria e de uma Igreja feita de jovens que tantas vezes ouvi falar, mas que poucos acreditam que existe.

JMJ Madrid 2011 no aeródromo de Cuatro Viento (local da vigília e missa final)
Rafaela Sousa
JMJ Madrid 2011 ambiente perto da Praça Cibeles na receção ao Papa Bento XVI
Rafaela Sousa
Jornada Mundial da Juventude em Madrid 2011
Rafaela Sousa
Madrid receção ao Papa Bento XVI
Rafaela Sousa

Rio de Janeiro, 2013: um momento marcante

Era quinta-feira, 25 de julho de 2013, quando a organização do Rio de Janeiro anunciou a alteração do lugar da vigília e da missa final.

Dois dias depois, os milhares de peregrinos iam reunir-se na Praia de Copacabana e não no recinto que estava a ser preparado há meses em Guaratiba. A chuva intensa deixou o espaço cheio de lama e sem condições para receber os eventos mais importantes da Jornada Mundial da Juventude.

Rafaela Sousa
2013: Copacabana, Brasil

As autoridades aconselharam os peregrinos a não pernoitarem na praia. Diziam que não havia estruturas suficientes montadas, e na verdade não havia, mas isso não impediu três milhões de pessoas de passarem ali a noite, garantindo um lugar para o dia seguinte. Eu incluída.

Não havia corredores para circular, tínhamos de passar literalmente por cima das pessoas que estavam sentadas e deitadas.

Havia poucas casas de banho e as filas eram intermináveis. Mas apesar de tudo, foi ali um dos momentos mais marcantes de todas as minhas experiências na Jornada Mundial da Juventude. Parece estranho, eu sei. Mas toda esta desorganização brasileira pouco importou.

Matt Maher. Descobri o seu nome quando voltei a Portugal. Foi um dos artistas internacionais convidados para atuar na vigília. Era apenas ele e uma guitarra, ajoelhado em frente ao altar.

A sua voz e a sua música silenciaram os três milhões de jovens na Praia de Copacabana. Parece uma tarefa impossível, mas acreditem que aquele silêncio era palpável e intenso como se calhar nunca senti antes.

Um momento de simplicidade e força imensa, à imagem de Francisco, que ficará comigo para sempre.

JMJ Rio de Janeiro 2013 à espera do Papa Francisco
Rafaela Sousa

Cracóvia, 2016: ser família

Bobrek é uma pequena localidade a cerca de uma hora de comboio de Cracóvia. Em 2016, a paróquia organizou-se para receber peregrinos e foi a nossa casa durante uma semana. Como família de acolhimento tinham de arranjar local para dormirmos e dar-nos pequeno-almoço. Mas esta comunidade recebeu-nos de braços abertos e deu-nos muito mais.

JMJ Cracóvia 2016 com a família de acolhimento
Rafaela Sousa

A família que me acolheu fazia questão de nos ir levar e ir buscar todos os dias à estação de comboio porque “já tínhamos dias cansativos e assim não tínhamos de caminhar mais até casa”.

Todos os dias tínhamos um pequeno-almoço típico à nossa espera na sala de jantar de família e conversávamos sobre o nosso dia, davam-nos sugestões do que visitar na cidade, falávamos sobre a vida na Polónia e em Portugal.

Foi a minha primeira experiência em família de acolhimento. Senti-me em casa. O Damian e os pais foram uma verdadeira família para nós.

No último dia, antes de deixarmos a casa pela última vez, deram-nos a chave e disseram: “É vossa. Fiquem com ela porque esta é a vossa casa”.