Jornada Mundial da Juventude

Carlos Moedas nega falta de segurança no Parque Tejo e defende liberdade artística

O artista Bordalo II invadiu o palco-altar da Jornada Mundial da Juventude, numa ação de protesto. O autarca de Lisboa garante que a intervenção não reflete um problema de segurança e explica os ajustes diretos para finalizar as obras do evento.

Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
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O presidente da Câmara de Lisboa negou esta sexta-feira que haja falta de segurança no palco-altar no Parque Tejo, construído para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e defendeu que jovens como Bordalo II têm "toda a liberdade artística".

"Os protagonistas destas jornadas são jovens, os que acreditam, os que não acreditam, os que são religiosos, os que têm diferentes religiões e tudo isso faz parte da Jornada e, portanto, ali, por exemplo, [...] é de um artista que todos gostamos, portanto faz parte também da participação das Jornadas que todos sejam ouvidos", afirmou Carlos Moedas (PSD).

O autarca referia-se assim à intervenção, na terça-feira, do artista Bordalo II no palco-altar no Parque Tejo, onde foi estendida uma "passadeira da vergonha", composta por representações de notas de 500 euros, numa crítica aos "milhões do dinheiro público" investidos para receber o Papa.

Em declaração aos jornalistas, à margem da ativação do Centro de Coordenação Operacional Municipal para a JMJ, o presidente da Câmara de Lisboa garantiu que a intervenção artística não reflete um problema de segurança, mas ainda vai "apurar exatamente" o que aconteceu.

"Estamos a falar de algo que é um espaço que é da cidade. Aquele espaço vai ser da cidade. Este evento é da cidade. Não estamos a falar aqui de segurança", disse o autarca.

“Viva a diversidade, viva a arte”

Carlos Moedas reforçou que "a segurança é o papel do Estado", em que a prioridade é a segurança das pessoas e do Papa Francisco, e defendeu uma cidade aberta, na qual "alguém que queria ir ver o palco, vai ver o palco", ainda que haja restrições durante a JMJ, reforçando que "não se passou nada de mal" com a intervenção do artista Bordalo II.

"Aliás, é com um artista que todos nós conhecemos, que tem feito muitos trabalhos para a câmara e que ali mostrou a sua voz [...]. O que temos aqui não é um problema de segurança, é um artista que quis exprimir. E viva a diversidade, viva a arte", declarou.

Questionado se não tivesse sido um artista a intervir, o presidente da câmara defendeu que "a cidade é as pessoas poderem exprimir-se".

"Não tínhamos ali um ato que estava numa iminência de fazer ou de destruir o palco [...]. Vamos apurar exatamente o que é que aconteceu. Não me parece que isso seja grave. Aquilo que nós estamos aqui a fazer não tem nada a ver com isso, porque essa segurança é uma segurança que o Estado assegura, através da Polícia de Segurança Pública", apontou.

“A transparência será total”

Questionado sobre os ajustes diretos para finalizar obras para a JMJ, Carlos Moedas afirmou que é preciso "algum realismo na vida pública.

“Dentro do tempo que tínhamos, obviamente que teve de ser feito em alguns casos”, frisou o autarca, lembrando que foi eleito em setembro de 2021 e que a JMJ é um evento de grande dimensão.

Carlos Moedas contou que teve vários contatos e reuniões, “inclusive com o Tribunal de Contas”, para que “tudo seja feito ao milímetro”, garantindo “transparência total”.

Bordalo II “teve graça”

O autarca disse que o palco-altar no Parque Tejo, construído para a JMJ, num investimento da Câmara de Lisboa de 2,9 milhões de euros, "está bem seguro" e que "os trabalhos decorreram muito bem".

"Houve um artista e tem toda a liberdade artística para o fazer, de ter ido lá, de ter feito uma brincadeira. É, obviamente, responsável a segurança que lá estava, mas que o deixaram entrar por ser um artista conhecido. Estou ainda a apurar os factos", adiantou, acolhendo a intervenção artística de Bordalo II com "muita graça".

"Não sei do que é que ele estava disfarçado, nem me interessa [...]. Tanto se falou do palco, afinal o palco atrai muita gente e até atrai artistas que vão lá fazer instalações", realçou Carlos Moedas, afirmando que a infraestrutura, após a JMJ, "vai ser muita coisa, até vai atrair artistas que vão valorizar o palco com obras e instalações".

Sobre se a situação tivesse sido de vandalização do palco-altar, inclusive com 'grafittis', o autarca assegurou que "isso não teria acontecido", reiterando que o que aconteceu foi uma expressão artística:

"Eu divirto-me imenso, porque o artista é um artista conhecido, conhecido das pessoas da câmara e não estava lá a vandalizar nada".

Protestos? "Há sempre pequenos incidentes"

Em relação à possibilidade de acontecerem protestos durante a JMJ, Carlos Moedas deu como exemplo os anteriores eventos em Madrid (Espanha) e em Cracóvia (Polónia), referindo que "há sempre pequenos incidentes, mas esses pequenos incidentes fazem parte daquilo que o Papa também acredita que esta jornada é, que é que as pessoas se possam exprimir".

Os protagonistas da JMJ são os jovens e o evento é, também, para "jovens como o Borbalo participarem", indicou o presidente da câmara, afastando a necessidade de, neste momento, existir "segurança de Estado em relação ao palco".

"Quando lá estiver o Papa podem acreditar que a segurança vai estar no seu máximo, porque está ali uma entidade. Naquele momento, é o palco e eu fico muito contente, fico verdadeiramente contente, que haja interesse e que vão lá e que façam", acrescentou, pedindo que, nos dias da JMJ, haja "alguma atenção" relativamente a manifestações.

"Vamos ter de, realmente, ter ali segurança, mas não é para estar a impedir que as pessoas vão ver o palco e que ponha um tapete com notas. Façam o que entenderem, mas espero que não o façam, obviamente, é isso que eu penso, mas não me parece que isso seja a notícia do dia", apelou.