Gosta de passar as férias a ler, a jogar ou a ver fotografias no computador. Em pequena era tímida, mas é na corrida, que as inseguranças ficam para trás. Os treinos são agora duas vezes ao dia porque a viagem para França é já no final do mês de agosto e a Guida, como gosta que a tratem, vai participar nos Jogos Paralímpicos de Paris.
É a capacidade de concentração que condiciona esta jovem atleta açoriana que já correu por todo o mundo e participou nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro e de Tóquio. As dificuldades são reconhecidas.
“Eu antes era uma rapariga que tinha muitos problemas e muitas dificuldades de autoconfiança, tinha muito medo das pessoas, não falava, tinha muitos problemas de concentração, ainda hoje tenho, às vezes eu esqueço-me do que a Paula diz e estou sempre a perguntar a mesma coisa e ela, coitada, fica cansada, eu percebo, mas ela compreende e diz: Oh, Guida, regista, regista para ser mais fácil e depois eu esqueço-me outra vez ”, conta a jovem.
“Essencialmente há uma dificuldade de concentração, comunicação, compreensão, mas acima de tudo, como eu quase todos nós, tem necessidade afeto”, explica Paula Costa, treinadora.
Com várias conquistas em competições de atletismo por todo o mundo, a Guida, aos 24 anos, sabe que as medalhas são um sonho, mas um sonho que ainda gosta de ter.
“As medalhas vão ser difíceis, e isso então eu tenho de saber que vai ser muito difícil, mas vou lutar, isso com toda a certeza, eu estou ali e vou dar tudo e mesmo que esteja cansada, mas não quero saber: é para dar tudo. É difícil, mas não é impossível”, afirma Guida.
O gosto pela competição começou há dez anos quando a treinadora lhe descobriu o talento e a vontade. Daí a amizade foi crescendo para lá da competição.
“Além de treinar ela é como se fosse minha mãe, ficamos juntas… além do atletismo vou para casa dela, vamos às compras às vezes juntas e isso também é muito importante”, conta Guida.
“Nós não somos só treinadores, eu nunca consigo esquecer a pessoa e o atleta”, explica Paula Costa.
Também a Guida, pessoa e atleta, não esquece a infância atribulada. "Entrei nessas instituições de acolhimento com 7 / 8 anos, já não me recordo muito bem, mas foi por essa idade e foi assustador para mim. Entrar e ver uma casa cheia de crianças, e só ter educadoras foi chocante para mim. E depois, quando fiz 9 anos, fui para a irmandade da Nossa Senhora do Livramento e estou lá até hoje. Já tenho 24 anos, já são muitos anos lá”, recorda a jovem atleta.
Fisioterapeuta, polícia ou massagista, são as profissões que gostava de ter, mas para já o treino continua porque esta jovem angrense promete dar o seu melhor, no salto em comprimento, daqui a dias, em Paris.