Engraçado ler e poder escrever sobre este tema, que é tão fascinante.
Não me canso de falar com donos de cães ou pessoas que estão a ponderar ter um cão. E conto sobre as mudanças nas nossas vidas depois da chegada de um cão, que é algo de muito positivo.
E o melhor exemplo sou eu mesma. Sempre tive cães quando era criança mas nunca tinha tido um cão só meu, em adulta em Lisboa e num apartamento. A vida mudou por completo e mudou para muito melhor.
O primeiro aspecto é que eu só conhecia os vizinhos do meu prédio de vista. Se me cruzava com eles dizia “bom dia”e “boa tarde” mas sempre numa corrida. Depois da chegada do Lobo, com apenas 3 semanas de vida, passei a parar para conversar, porque me faziam perguntas. Ou porque era muito querido ou porque era muito cachorro ou porque queriam dar festas e então essas abordagens e essas aproximações fizeram com que eu ficasse mais tempo na rua onde vivo ou mesmo no hall do prédio simplesmente a conversar com os vizinhos.
Nem dava pelo tempo a passar… Passei a saber o nome de cada vizinho, o nome dos seus filhos e até trocámos contactos de telefone. Hoje em dia não são apenas as pessoas do meu prédio que eu conheço e sei o nome, conheço e tenho o telefone de todos os vizinhos da praceta onde vivo graças ao Lobo, o meu pastor alemão já com quase 10 anos.
Foi também muito interessante observar na rua pessoas totalmente desconhecidas, aparentemente sérias, ou focadas nos seus pensamentos mas que por me verem passar com o Lobo, imediatamente levantavam a cabeça, sorriam para o cão, sorriam para mim e eu devolvia esse sorriso, sentindo uma felicidade qualquer. Um bem estar inexplicável. Empatia com desconhecidos, só por gostarmos de algo em comum.
Na praceta onde vivo, as mães das crianças pequenas durante a pandemia criaram um grupo no WhatsApp chamado “recreio” para organizarem sempre que as crianças fossem brincar para a rua e curiosamente incluíram-me a mim nesse grupo, eu que não tenho filhos!
Explicaram-me que me incluíram pelas razões óbvias: as crianças queriam ir brincar para a rua sim, mas para brincar com o Lobo.
O Lobo é um pastor alemão e eu cresci com pastores alemães mas este consegue ser ainda mais especial do que os anteriores porque este é só meu. Não é dos meus pais nem dos meus irmãos nem dorme lá fora no jardim da casa a fazer de cão de guarda. É muito mais do que isso: guarda a casa, acompanha-me no trabalho e vai comigo ao talho, às compras, à farmácia. Vai jantar comigo a casa de amigos, porque é sempre convidado.
Tem sido um companheiro incrível. Sabe se estou triste, perdida ou desconfortável, sabe quando são horas de ir passear ou se é fim de semana. Não gosta do barulho dos vizinhos de cima e não tolera pessoas demasiado perto da minha porta que não sejam do prédio. É fanático por bolas de ténis. E por festas nas bochechas. É um ser extraordinário! Amigo, família! Amor incondicional.
Dizem que os cães são o nosso reflexo e sem dúvida o Lobo é o meu. Fez-me aproximar de pessoas que eu não conhecia, outras que tinham medo de cães e que depois de conhecerem o Lobo deixaram de ter. E ainda, fez com que a criança mais tímida e fechada se tornasse sociável e sorridente.
Há pouco tempo comecei a trabalhar noutra empresa. Durante um mês não levei o Lobo. Eu achava que as minhas colegas estavam sempre zangadas, pois elas nunca sorriam e nunca davam conversa... com caras de poucos amigos.
No dia que passei a levar o Lobo para o escritório, houve uma mudança radical nos comportamentos de toda a gente! Percebi que afinal elas também sabiam sorrir, que gostavam especialmente de cães, davam festas ao Lobo, e passaram a falar comigo e a perguntar tudo sobre o Lobo.
O cão ou a existência de um cão nestas circunstâncias foi mais uma vez um elemento de união e de bem estar em geral. Sorriso gera sorriso. E tal como certas músicas nos contagiam e nos fazem ficar de repente bem dispostos ou ter vontade de dançar, os cães têm esse mesmo efeito. Fazem-nos sorrir e ser sem dúvida mais felizes. Verdadeiramente terapêutico.
Marta Nandin de Carvalho, Amante de cães desde que nasci