Mozer? “Só faltava andar ao soco nos treinos"
Isaías foi colega de Mozer no Benfica e chegou a defrontá-lo quando ainda estava no Rio Ave. “Fez-me uma voadora em que tive de pular para não ir parar à vedação.” O defesa-central dos encarnados era conhecido por ser duro e Isaías diz que era preferível tê-lo na mesma equipa do que contra: “Era a garantia que tínhamos lá atrás.”
Mas mesmo os colegas de equipa não estavam a salvo das entradas do antigo internacional brasileiro. “Nos treinos só faltava sair no soco. Era ele e o sueco, o Schwartz.”
Isaías recorda um episódio mais quente a envolver Mozer e Rui Águas em que estes quase se pegaram. “Eles até passavam férias juntos, mas naquele dia estiveram perto. O Mozer dizia que tinha de bater nos treinos para bater nos jogos. E eu respondia: ‘Quero jogar com você, não quero jogar contra, não.’”
“No Benfica ganhei dois campeonatos, mas com tecnologia tinha ganho quatro. Mais tarde isso ficou provado com o Apito Dourado.”
“Estive cinco épocas no Benfica e ganhei dois campeonatos. Se houvesse tecnologia, tinha ganho uns quatro.” Isaías não tem dúvidas em afirmar que no seu tempo de águia ao peito existiram situações de arbitragem complicadas. “Muito disso ficou provado com o Apito Dourado. Era difícil.”
O antigo avançado diz que em alguns jogos nem valia a pena protestar. “Levava entradas fortes e se dissesse alguma coisa ainda via amarelo.” Entre os adversários mais duros que encontrou no futebol português, destaca “Oceano, do Sporting, Eusébio, do Beira-Mar, Bobó, do Boavista, e todos do FC Porto”.
“Nos jogos rematava dez, mas nos treinos rematava cem para fazer um”
Os remates fora da área eram a imagem de marca de Isaías e valeram-lhe a alcunha de “Pé Canhão”. Foram muitos os golos que marcou de longa distância e nunca deixou de tentar, apesar de algumas críticas.
“As pessoas diziam que o Isaías tinha de chutar dez para marcar um. Nos jogos rematava dez, mas nos treinos rematava cem para fazer um. Ficava lá a rematar com chuva e com frio porque sabia que em algum momento iria dar”, lembra.
Isaías recorda um jogo contra o Farense em que o Benfica estava a perder no Estádio da Luz com uma grande exibição do guarda-redes Peter Rufai.
“Naquela altura, eu já tinha feito dele o guarda-redes da jornada. A bola não entrava e os 120 mil adeptos já começavam a assobiar. Lá tive uma em que o João Pinto deixou para mim e marquei de canhota. Depois fui ter com os adeptos: ‘Então, agora não assobiam?’ Tens de tentar, alguma há-de entrar.”
Para Isaías, havia uma marca que lhe servia sempre de ordem para atirar ao alvo: “Quando enxergava a linha da grande área, não tinha para ninguém. Podia errar, mas a meta era essa.”
O futebol é o ponto de partida neste podcast de conversas sem fronteiras ou destino agendado. Todas as semanas, à quinta-feira, Luís Aguilar entra no cockpit com um convidado diferente. A viagem começa agora porque Ontem Já Era Tarde.