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Os líderes europeus reuniram-se com os Talibã?

A Comissão Europeia anunciou um fundo de 1 mil milhão de euros para ajudar o povo afegão a mitigar a crise económica e humanitária.

Ministro dos Negócios Estrangeiros talibã
Ministro dos Negócios Estrangeiros talibã
CAGLA GURDOGAN

Nas redes sociais, várias publicações garantem que os Talibãs – o grupo fundamentalista islâmico, que tomou o poder no Afeganistão em agosto deste ano – reuniram-se com os líderes da União Europeia e dos Estados Unidos. Será verdade?

Embora nem a União Europeia (EU), nem os Estados Unidos da América (EUA) reconheçam o novo governo Talibã, a 12 de outubro no Catar, uma delegação conjunta dos EUA e da UE reuniu com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão, Amir Khan Muttaqi. Este foi o primeiro encontro, frente-a-frente, entre representantes europeus e membros do atual governo afegão, desde a tomada de Cabul em agosto deste ano.

Ao Polígrafo SIC/Europa, fonte oficial da Comissão Europeia esclarece que não esteve presente no encontro nenhum líder europeu. De acordo com a mesma fonte, “na reunião esteve um representante da equipa europeia especializada no Afeganistão. Não foi um encontro político, mas sim técnico”. A Comissão afirma que “todos os parceiros internacionais enfatizaram o seu compromisso para com os cidadãos afegãos, para mitigar o impacto de crise financeira e humanitária”.

Também a 12 de outubro os países membros do G20 reuniram-se num encontro extraordinário, organizado por Itália, para responder à crise humanitária no país. Neste sentido a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comunicou que a UE irá apoiar o Afeganistão e os países vizinhos com uma verba de mil milhões de euros.

O comunicado explica que este apoio será canalizado para organizações internacionais e organizações não governamentais, no terreno. O apoio irá diretamente para a população afegã e os países vizinhos, que têm recebido a maioria dos refugiados afegãos. A presidente da Comissão Europeia explica que “temos sido claros sobre as condições para negociar com as autoridades afegãs. Até agora os relatórios falam por si. Mas a população afegã não deve pagar o preço pelas ações dos Talibã”.

De forma a incentivar uma política de direitos humanos pelo grupo islâmico, em paralelo, a UE está disposta a apoiar o governo afegão através de um fundo de desenvolvimento para o país, caso o novo governo cumpra com cinco metas fundamentais:

  1. Permitir a saída segura e ordeira de qualquer cidadãos estrangeiro ou nacional do Afeganistão;
  2. Promover e respeitar todos os direitos humanos, nomeadamente relacionados com os direitos das mulheres e raparigas;
  3. Permitir o apoio de ajuda humanitária no terreno;
  4. Não ter qualquer ligação ao terrorismo internacional;
  5. Estabelecer um governo inclusivo e representativo.

Na reunião do G20, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, disse que “a prioridade é responder à crise humanitária. Se isso significar contacto, e assim será, então nós iremos ter contacto com os Talibã, não há outra alternativa, já que eles são essenciais para uma resposta efetiva à crise humanitária. No entanto, isso não significa que reconhecemos a atual governação. O reconhecimento apenas virá com base nas ações dos Talibã, não com base das palavras”.

Posto isto, é verdade que representantes da União Europeia se reuniram com o grupo fundamentalista islâmico no dia 12 de outubro, no Catar - mas, ao contrário do que as publicações afirmam, esta reunião não contou coma presença de nenhum líder europeu.

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