Duarte Gomes

Comentador SIC Notícias

Primeira Liga

Opinião

Derby à porta: o ambiente de um Benfica-Sporting (antes e durante)

Benfica e Sporting: duas grandes equipas, dois treinadores de topo, adeptos apaixonados, cobertura mediática e casa cheia. Está tudo lá, não está? É também por isso que, dentro das quatro linhas, as coisas podem ser complicadas de gerir.

Derby à porta: o ambiente de um Benfica-Sporting (antes e durante)
Canva

Na próxima jornada, SL Benfica e Sporting CP encontram-se para mais um derby da liga portuguesa.

Não há muito a dizer sobre estes jogos que já não tenha sido dito antes: são espetáculos distintos, capazes de oferecer a quem verdadeiramente gosta de futebol uma atmosfera única e arrepiante.

Reparem: duas grandes equipas, dois treinadores de topo, adeptos apaixonados, cobertura mediática, casa cheia, enfim... que mais faltará? Está tudo lá, não está?

Confesso-vos, com pontinha de orgulho, que sinto-me um privilegiado por ter tido o prazer de arbitrar jogos desta dimensão. E é precisamente essa experiência que me permite afirmar que estes são momentos muito especiais na carreira de quem anda lá dentro (árbitros, atletas, técnicos e restante staff).

O motivo é simples: a carga emocional, a adrenalina, a intensidade, a preparação... tudo é melhor. Tudo é acima do normal.

É também por força desse caráter diferenciador que estas partidas são difíceis de arbitrar.

As diferenças notam-se logo no dia em que se recebe a nomeação: há mais solicitações por parte da imprensa e os vizinhos, familiares e amigos começam as habituais provocações clubísticas meio a brincar... meio a sério. Faz parte. Até alguns adeptos atrevidos tentam a sua sorte, enviando mensagens mais ou menos ousadas, mais ou menos inflamadas.

É inegável. O clima é diferenciado, mas convenhamos... não necessariamente negativo.

É que esse cocktail de emoções tende a funcionar de forma quase sempre positiva. É uma espécie de fator estimulante, que obriga à superação. Portanto, quando chegamos ao estádio, os índices de motivação estão ao nível dos atletas: altíssimos.

No entanto, assim que entramos lá dentro, percebemos que o ambiente é mais pesado. Todos estão tensos, focados, em modo "jogo". É normal na circunstância.

Ao contrário do habitual, os cumprimentos tendem a ser menos expansivos. Os jogadores, mesmo os mais novos, parecem interiorizar o peso histórico da rivalidade que ali mora. O derby mora neles, bem dentro dele e isso vê-se a milhas.

É giro de apreciar.

É também por isso que, dentro das quatro linhas, as coisas podem ser complicadas de gerir.

Os vinte e dois que lá estão sabem que um jogo destes não é um jogo qualquer. Há mais fisicalidade, mais choque, mais contacto, mais risco.

Há menos tolerância, menos lucidez, menos compreensão para a decisão.

O povo pressiona, os bancos saltam, os flashs brilham.

Cada lance é disputado ao centímetro, cada jogada batalhada ao limite. Há mais protestos, mais conflitos e mais quedas. Há mais assobios, empurrões e agarrões. Tudo é exponenciado, empolado. Tudo é dramatizado.

É rara a arbitragem que sobrevive a num espetáculo assim, tão intenso.


Mas é também por isso que os derbys são espetáculos de grandeza maior.

O futebol é qualquer coisa de fantástico e não há volta a dar.

No próximo domingo que seja tudo o que tem que ser, de preferência com respeito mútuo, qualidade técnica e emoções a rodos.

Disso precisamos. O resto dispensamos.

O ex-árbitro internacional Duarte Gomes é comentador da SIC e tem um espaço de opinião no site da SIC Notícias.