João Rosado

Comentador SIC Notícias

Primeira Liga

Opinião

Rui Costa e Schmidt não dão asas ao Benfica

Opinião de João Rosado. O treinador continua a falhar no capítulo das adaptações e o comportamento da SAD no mercado tem sido errante.
Rui Costa e Schmidt não dão asas ao Benfica
Horacio Villalobos/Getty Imagens

A agenda de Rui Costa, neste momento, deve estar ao nível daquilo que marca o ciclo de compromissos de Luís Montenegro. E a culpa não é apenas de Pedro Pablo Pichardo, que saltou para o espaço mediático graças à medalha olímpica e aos pedidos de audiência que solicitou tanto ao primeiro-ministro como ao presidente do Benfica.

Face ao descalabro registado no arranque do campeonato, o líder máximo das águias terá de multiplicar os esforços para que até final de agosto a estrutura seja capaz de compensar o tempo perdido e os erros até agora cometidos no mercado. A derrota consentida em Famalicão apenas confirmou a rígida estratégia no campo das contratações e a constituição de um plantel que, ao contrário do que foi dito pelo técnico, evidencia vários desequilíbrios.

Diogo Cardoso

Ninguém duvida que os ingressos de Leandro Barreiro e Renato Sanches oferecem soluções de vulto, mas quem acreditou que os problemas ofensivos da equipa ficavam resolvidos com a aquisição de Vangelis Pavlidis esqueceu-se de que, para potenciar o nível de definição do grego, é aconselhável recorrer a setas capazes de oferecer a devida largura à frente de ataque.

No fundo, a meritória vitória alcançada por Armando Evangelista constava do programa das festas. Conforme está, o grupo de trabalho encarnado sujeita-se, no mínimo, a empatar alguns jogos, nomeadamente perante adversários que têm uma impressionante cultura defensiva e que sabem, por inerência, fechar-se a sete chaves.

Se na hora do aperto o melhor recurso passa pelo recrutamento de um Angel Di María a meio da sua pré-temporada, está tudo dito sobre as deficiências de um banco repleto de alternativas para o corredor central e carente de jokers com o grau de acutilância exigível a quem tem como missão estragar o dia aos laterais do lado contrário.

Na linha do que indiciara durante a fase de preparação, Schmidt confia em excesso num meio-campo com quatro futebolistas que preferem exibir-se em zona interior. Sem falar na dupla Barreiro-Florentino Luís, cujas características recomendam, como é evidente, um posicionamento a meio do terreno, tanto João Mário como Fredrik Aursnes são atletas que podem dar outro rendimento nas costas do(s) avançado(s).

DE BESTE A BESTIAL?

Por muito boas que sejam as memórias da primeira temporada de Aursnes enquanto flanqueador esquerdo, atualmente não faz sentido pensar que o internacional norueguês pode continuar a surpreender e a marcar a diferença como falso extremo. Quanto mais não seja porque... Grimaldo é Grimaldo, já não há Enzo Fernández, já não há João Neves nem Gonçalo Ramos e também... já não há Rafa Silva, ou seja, perderam-se a pouco e pouco os protagonistas que permitiam criar nuances fundamentais na estratégia, sobretudo no flanco que não se endireitou com os canhotos Juan Bernat e Álvaro Carreras.

Talvez Niklas Beste, titular no domingo e também ele ligado ao golo inaugural de Sorriso, ainda se revele uma arma temível e resolva de forma parcial o défice naquele lado. A questão é que à frente de Beste ou até mesmo de Carreras não é razoável a aposta permanente num centrocampista que se notabilizou no Feyenoord, a par de Orkun Kokçu, e que tem reclamado vezes sem conta o regresso à posição de origem.

Octavio Passos

O profissionalismo e a competência de Aursnes têm disfarçado as consecutivas adaptações (basta recordar os inúmeros desafios em que fez parte do bloco recuado) e em alguns casos têm, é justo sublinhá-lo, validado a “invenção” que espantou o universo vermelho. A insistência do alemão na recriação de um mapa de variantes que caracterizou o título conquistado em 2022-23 é que acaba por deitar tudo a perder atendendo à abusiva centralização que resulta da incapacidade de certos elementos para fingirem que são uma fotocópia de Di María.

A única atenuante que pode neste contexto ter algum relevo relaciona-se com a ausência do lesionado Andreas Schjelderup, o outro internacional norueguês que, de acordo com aquilo que já foi assumido, faz mesmo parte dos planos para esta temporada. Dando credibilidade a essa declaração, o jovem de 20 anos que aceitou regressar ao Nordsjaelland (10 golos e 11 assistências em 38 jogos) surge como um trunfo que não será de desprezar quando for imperioso exibir um distinto grau de verticalidade.

Diogo Cardoso

Numa altura em que Schjelderup até está entregue ao departamento médico, a reformatação de Tiago Gouveia para defesa direito, a conversão do lesionado Benjamín Rollheiser em médio recuperador e a insistência em Kokçu como ala direito ou esquerdo (durante alguns minutos atuou em Famalicão à frente de Alexander Bah) atraiçoam o próprio Schmidt, já de si vítima da indesculpável disponibilidade da SAD para transacionar David Neres.

Carlos Rodrigues

Segundo as últimas notícias, por curtos 25 milhões, o internacional brasileiro prepara-se para ser apresentado no Nápoles, deixando os vice-campeões nacionais mais despidos de verdadeiros extremos. Mesmo com um Di María indiscutível no onze, o aproveitamento cabal de Neres obedeceria a toda a lógica, o que significa que o remendo para a saída do ex-Ajax terá de encabeçar a lista de prioridades da administração.

A não ser que quem governa na Luz deposite todas as fichas num menino de 18 anos chamado Gianluca Prestianni e acredite, tal qual sucede com o treinador, que ele será capaz de fazer a águia levantar voo.

Seria uma convicção tão respeitável como outra qualquer não fosse o caso de o pibe argentino jogar também ele em zona interior. Com Roger Schmidt e com esta agenda de Rui Costa no mercado, o Benfica não tem asas para voar.

Por sinal, é exatamente disso que se queixa um tal Pedro Pablo Pichardo...