TAP: o futuro e as polémicas

TAP: antigo chairman defende que intervenção do Estado não foi "nenhuma opção ideológica"

Miguel Frasquilho, presidente do Conselho de Administração da companhia aérea até 2021, referiu também na comissão de inquérito que quando a companhia aérea entrou em dificuldades devido à pandemia, a "primeira opção foi recorrer ao auxílio dos acionistas privados".

TAP: antigo chairman defende que intervenção do Estado não foi "nenhuma opção ideológica"
TIAGO PETINGA/LUSA

O antigo 'chairman' da TAP Miguel Frasquilho defendeu esta quinta-feira que a intervenção do Estado na companhia em 2020 "não se tratou de nenhuma opção ideológica", mas sim "uma premente necessidade" face à recusa de auxílio dos privados.

"Nunca esquecerei a opção tomada pelo Governo em representação do Estado em salvar a TAP. Não tenhamos ilusões, se o objetivo era salvar a TAP, não havia outra alternativa. [...] Não se tratou de nenhuma opção ideológica, tratou-se antes de uma premente necessidade, uma emergência, que permitiu salvar milhares de postos de trabalho", defendeu o antigo presidente do Conselho de Administração do grupo TAP.

Miguel Frasquilho disse ainda na comissão de inquérito à tutela política da gestão da TAP que, quando a companhia aérea entrou em dificuldades devido à pandemia, a "primeira opção foi recorrer ao auxílio dos acionistas privados".

"Infelizmente, quando confrontados com a necessidade premente de recursos que permitissem a viabilidade da TAP, a resposta dos acionistas privados foi negativa", realçou.

O antigo 'chairman' deixou ainda uma palavra de agradecimento ao esforço e dedicação dos trabalhadores da TAP e disse depositar "a maior confiança" na nova equipa de gestão, liderada por Luís Rodrigues, que, aliada aos resultados positivos alcançados em 2022, que anteciparam em três anos o cenário previsto para 2025, "permitem acalentar a esperança de um futuro melhor" para a companhia aérea.

O percurso de Frasquilho

Economista de formação, Miguel Frasquilho foi também deputado na Assembleia da República, pelo PSD, e secretário de Estado do Tesouro e Finanças entre 2002 e 2003, e assumiu o cargo de presidente do Conselho de Administração da TAP, em junho de 2017, por nomeação do Estado, detentor de 50% do capital.

Depois da reversão da privatização feita, em 2015, na reta final do governo do PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho, o Conselho de Administração da TAP ficou composto por seis elementos indicados pelo Estado e outros seis escolhidos pelo consórcio Atlantic Gateway, dos empresários Humberto Pedrosa e David Neeleman, com uma participação de 45% (os restantes 5% pertenciam aos trabalhadores), sendo que o presidente nomeado pelo Estado tinha voto de qualidade.

Na carta de despedida aos trabalhadores, em junho de 2021, Miguel Frasquilho afirmou sair com a "tranquilidade do dever cumprido", explicando que a saída resultava da falta de conjugação de vontades para continuar entre o próprio e o Estado.

Na mesma carta, o antigo gestor lembrou os dois primeiros anos e meio na liderança do grupo TAP, em que a "convivência com os acionistas privados e os seus representantes foi sempre muito desafiante e enriquecedora".

No último ano e meio de mandato, marcado pela pandemia, Frasquilho sublinhou que as "prioridades foram as de salvar a TAP, o maior número possível de postos de trabalho e, através do duríssimo, mas indispensável Plano de Reestruturação entregue em Bruxelas, procurar garantir o futuro, a sustentabilidade e a rentabilidade da TAP".